Minuta de memória da reunião
do Grupo de Pesquisa Epistemologia e Sociologia Ambiental, ocorrida em 10
de junho de 2015, nominalmente das 14h às 16h, nas dependências da Casa
Latino-Americana (CASLA). Presentes: Prof. Dimas Floriani, Profª Lúcia
Helena de Oliveira Cunha, Profª Maria do Rosário Knechtel, Maria Fernanda
Cherem, David Fadul e José Thomaz. 1. Informes. O Prof. Dimas
informou sobre apresentação de justificativa de Rafael Braz para não
comparecimento à reunião. 2. Discussão sobre o texto “Hacia un Pensamiento
Socioambiental: aproximaciones epistemológicas, sociológicas y metodológicas”,
produzido em coautoria pelos Profs. Dimas Floriani e Nelson Vergara Muñoz.
Prof. Dimas informou que o texto fora discutido, em 2 de junho de 2015, no
Centro de Estudios del Desarrollo Local y Regional (CEDER), Universidad de Los
Lagos (Chile); e que naquela ocasião fora sugerido que a parte III, “Teorías y
métodos de investigación en temas socioambientales”, fosse tratado em outro
texto. Prof. Dimas comentou sobre características da produção de um texto em
coautoria, em particular quando a convivência entre os autores é relativamente
recente; e que o Prof. Vergara se aproxima do pensamento complexo do
antropólogo, filósofo e sociólogo francês Edgar Morin. Comentários: a)
que a introdução apresenta questões socioambientais como crise do pensamento;
b) que existe necessidade de uma epistemologia da complexidade; c) que existe
necessidade de dizer em que consiste cada epistemologia; d) que cada uma das
posições perante o conhecimento é influenciada culturalmente, por meio de
racionalidades; e) lembrou-se do princípio de recursividade, de Edgar Morin,
que, por assim dizer, internaliza externalidades de natureza cultural; f) que
correlação e interdependência [captadas pela figura de “rede”] representam
melhor a questão [da consideração de elementos socioambientais] do que a ideia
de encadeamento, uma vez que esta significa a relação causa-efeito e a noção de
rede não é monocausal e policêntrica; g) a ideia de que a razão da vida social
é produzir sentido, e de que os jogos de linguagem permitem revelar e esconder;
h) a existência de um debate semântico entre substantivo e adjetivo referente
ao termo “socioambiental”; i) a necessidade de compreender a relação entre
sociedade e natureza; j) Na modernidade, a natureza é vista e representada como
signo negativo, pois emerge da crise ecológico-econômica, como expressão da
superexploração dos recursos naturais e das catástrofes e poluições de origem
antropogênica; k) o risco da simplificação, e das abordagens simplificadoras e
ou tendenciosas; l) a necessidade de reinventar a ciência moderna, com
diferentes perspectivas epistêmicas, lembrando que cada uma delas exige dizer
qual é seu ponto de partida; m) a possibilidade de falar de um novo contrato
epistemológico; n) o problema da possibilidade de diálogo entre visões
diferentes. Prof. Dimas apresentou também a ideia de elaborar um livro com a
produção teórico-metodológica referente à interação entre sociedade e natureza,
o qual poderia conter fundamentos de uma teoria do imaginário, das
representações e da aprovação discursiva. Profª Lúcia Helena mencionou a
perspectiva “sociologizante” (que dissolve a natureza no homem) e
“ecologizante” (que dissolve o homem na natureza). Prof. Dimas lembrou que “a
pedra não pensa; o homem pensa mas pode pensar errado”. Indagou sobre qual
seria o ponto de partida, se os contextos estão misturados. Apresentou, como
possibilidade, partir da cultura e reivindicar uma singularidade aos fenômenos.
E mencionou o desafio lógico ou teórico de reconhecer o momento quântico em que
a unicidade se torna diferenciada. Profª Lúcia Helena disse que o mar, por
exemplo, impõe condições, e tem, por assim dizer, uma fala. Prof. Dimas
acrescentou que isso remete à possibilidade de uma perspectiva biológica
diferente, a partir, por exemplo, de construtos ou elementos de natureza
cibernética; o que levaria uma pessoa a rever suas referências a partir das
quais compreende, posiciona-se diante de, representa e interpreta o mundo.
Lembrou o construtivismo social do antropólogo, sociólogo e filósofo da ciência
francês Bruno Latour, ao reconhecer que as coisas são simultâneas: pensamento e
ação. Profª Lúcia Helena considerou a importância de o tema tratado no texto
ser apresentado, como aula, a alunos de pós-graduação. Profª Maria do Rosário
lembrou que, na primeira edição do encontro da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade (Anppas), foi apresentada a
pergunta: “por que educação socioambiental?”. Profª Lucia Helena fez menção ao
problema de um conceito de natureza fixo, a partir de um olhar urbano
industrial. Maria Fernanda citou o livro do historiador norte-americano Warren
Dean que ganhou tradução de Cid Knipel Moreira intitulada A Ferro e Fogo: a
história e a devastação da mata atlântica brasileira (São Paulo: Companhia
das Letras, 1993). Profª Maria do Rosário disse achar difícil dissociar o
socioambiental, que contempla as naturezas humana e não humana. Prof. Dimas
mencionou o problema das definições de estratégias de sustentabilidade, em
especial no que se refere à dimensão a ser considerada diante de processos
tecnológicos de mediação. E indagou como seria possível dispor de uma teoria
geral que contemple entendimentos, por exemplo, em Guaraqueçaba e em Lyon; e
como seria possível, nela, levar em conta aspectos da subjetividade. Profª
Lúcia Helena propôs um trabalho no tema “cultura e natureza: bases
epistemológicas” para ser feito “a quatro mãos” (Prof. Dimas e Profª Lucia
Helena). Valorizou a presença da diversidade ou da diferença em textos de
natureza socioambiental. E mencionou um texto que polemiza a idealização das
diferenças, mencionando, como exemplos: o apelo midiático e publicitário à
diferença; a questão de fundo: estabelecer um nexo com a questão da igualdade
da espécie humana, tanto biológica como social; e a observação de que, se a
diferença for extremada, pode acontecer que surja um outro tão “outro” que,
portanto, seja considerado como destituído de direitos. Profª Maria do Rosário
lembrou o educador canadense Peter McLaren, ao dizer da necessidade de aceitar
o outro como diferente, mas não como desigual ou inferior. Prof. Dimas lembrou
a perspectiva feminista, também no contexto do direito às diferenças, e indagou
se não seria uma fantasia a ideia de universal, por exemplo, no contexto da
democracia. Lembrou também Edgar Morin no contexto das novas universalidades
que contemplam as diversidades. Considerou que tal novidade coloca dificuldades
a qualquer teoria social, embora seja um problema, talvez permanente, das
ciências humanas, o qual ilustrou com referência a como ocorreu o processo de
invisibilidade e paulatina visibilidade das populações indígenas. Indagou sobre
a possibilidade de haver uma teoria geral capaz de explicar de modo adequado a
reemergência indígena. E citou o problema de destacarem-se as grandezas, mas
não as mazelas, do multiculturalismo. Profª Lúcia Helena manifestou a ideia de
bases epistemológicas do contexto de cultura contemporânea. Prof. Dimas lembrou
do crítico literário nascido em Jerusalém sob o Mandato Britânico da Palestina
Edward Saïd, de cujos livros um ganhou tradução de Rosaura Eichenberg
intitulada Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente (São Paulo:
Companhia das Letras, 2007). E sugeriu leitura de textos do livro La Colonialidad del Saber: eurocentrismo y ciencias
sociales: perspectivas latinoamericanas
(Buenos Aires: Clacso, 1993), organizado pelo sociólogo venezuelano Edgardo
Lander. David indagou sobre ser o diálogo de saberes voltado a um fim outro ou
um fim em si mesmo: o que motivou a apresentação, por parte do Prof. Dimas, de
um exemplo no campo jurídico, comparando os papéis do advogado e do promotor
público. Prof. Dimas fez menção à possibilidade, ou mesmo à necessidade, de uma
ciência pública, e lembrou a filósofa belga Isabelle Stengers no particular
referente à necessidade de reinventar a ciência moderna. Maria Fernanda
mencionou existência de legislação sobre Medicina em comunidades tradicionais.
Profª Maria do Rosário relatou brevemente a experiência de uma dissertação de
mestrado interdisciplinar que, por meio de pesquisa-ação, relacionou educação e
saúde. Prof. Dimas perguntou se haveria mais manifestações e, como não
houve, encerrou a reunião. Curitiba, 19 de junho de 2015.
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Para saber mais sobre o Projeto, acessar o link: http://meioambienteculturaesociedade.blogspot.com.br/2015/07/fundamentos-teorico-metodologicos-dos.html
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