Projeto de Pesquisa registrado no CNPq cujo objetivo é reunir pesquisadores latino-americanos, com metodologia interdisciplinar, por meio de pesquisas, seminários e publicações em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade. Este projeto (2015-18) é coordenado pelo Prof. Dr. Dimas Floriani, responsável pela linha de Pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e inserido na Rede Internacional CASLA-CEPIAL Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos (Coordenação Geral de Casa Latino-Americana - CASLA). Clique para acessar o projeto.


ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).



sábado, 11 de julho de 2015

Memória n. 2 Primeira etapa do processo de pesquisa sobre ESTUDOS INTEGRADOS EM MEIO AMBIENTE

Alguns tópicos para articular a primeira etapa do processo de pesquisa sobre ESTUDOS INTEGRADOS EM MEIO AMBIENTE, CULTURA E SOCIEDADE: uma perspectiva latino-americana
25/03/2015
1-      Basicamente, a primeira etapa consiste em apresentar uma problemática teórica capaz de abordar os fundamentos   epistemológicos do conhecimento sobre as três dimensões da pesquisa: meio ambiente, cultura e sociedade.   Esses fundamentos se referem aos processos de produção do conhecimento, desde concepções de ciência e de outros tipos de produção social de saberes culturais, a fim de abarcar os principais temas que compõe o projeto de pesquisa. As perguntas norteadoras desta primeira etapa referem-se ao debate epistemológico atual que trata da questão socioambiental desde a teoria da complexidade, a crítica que as atuais teorias epistêmicas lançam aos modelos ortodoxos de ciência, estabelecendo uma hierarquia fortemente estabelecida pelas “ciências duras” (Kuhn, Popper, Bunge e demais seguidores dessas concepções e que tentam legitimar concepções de ciência desde esses paradigmas fortemente comandados por esse modelo.
Não se trata aqui de enveredar pelo caminho da história ou filosofia da ciência, mas de entender o debate que ocorre no interior das diversas ciências, questionando a linearidade progressiva da ideia de ciência, supondo que essa evolução vai na perspectiva da descoberta de verdades sobre a natureza, o cosmos e as sociedades, à maneira do positivismo ou do neo-positivismo.
As questões epistemológicas derivam, com algum grau de possibilidade, dos debates inscritos no contexto dos debates que envolvem não apenas questões inerentemente científicas, mas que obedecem à uma multiplicidade de questões apontadas por Bachelard (de que para a filosofia da ciência interessa a história dos erros; questionável seria sua outra questão complementar, a saber, de que para a história da ciência interessaria apenas os acertos!); para Koyré a história das ciências é marcada pela descontinuidade, por erros superados, revoluções e refundações epistemológicas; Piaget, por seu lado, defendia uma diversidade de fontes inspiradoras da epistemologia ou daquilo que evidencia o debate para resolver as crises e seus enfrentamentos, ou seja, problemas propriamente  científicos, extra-científicos (políticos e culturais) e meta-científicos (filosóficos ou metafísicos).
O debate atual sobre essas mesmas questões (o que é afinal ciência e como definir os parâmetros sobre como entende-la) podem ser localizados nas práticas e descobertas de problemas que suscitam redefinir o significado dela e consequentemente do mundo ou da realidade que ela busca explicar (Prigogine), os usos sociais que derivam de suas descobertas e aplicações, bem como a crítica social que emerge como contrapeso a esses usos e aplicações (Stenghers, Bruno Latour, Boaventura, Leff, entre um imenso coletivo de autores críticos ao conceito tradicional de ciência).
Neste sentido, interessa-nos a perspectiva da sociologia e antropologia da ciência, além do debate de uma história e filosofia críticas sobre este tema, bem como a crítica social que emerge a esse respeito, especialmente o debate da descolonização do conhecimento e o diálogo de saberes na perspectiva de uma epistemologia do sul.
No bojo dessa abordagem interessa-nos igualmente indagar a respeito de uma ciência pública, pertinente e que possa nos colocar diante das seguintes interrogações: ciência para quê, ciência para quem e ciência com quem?
 Deve-se buscar identificar  que o debate sobre a legitimidade do conhecimento científico bem como a crítica que lhe é dirigida, tanto pelos próprios pares e seus lugares de enunciação (as universidades, as comunidades epistêmicas, o estado financiador de pesquisas, os sistemas de controle e sanção dessa produção científica) como dos não-lugares ou desde os extra-muros, isto é, desde uma perspectiva de sujeitos ou agentes sociais, formados por coletivos que possuem seus próprios sistemas simbólicos e suas práticas, bem como um olhar crítico sobre o que se produz em termos de conhecimento no interior das agências especializadas, como universidades, centros de pesquisa públicos ou privados. Uma das  questões norteadoras nesta etapa da discussão é se é possível a co-existência de conhecimentos doutos e não doutos para as questões que emergem desde o debate do socioambientalismo.
Esse debate é fundamentalmente um debate de caráter filosófico e político sobre o que se entende por sustentabilidade socioambiental cujos referenciais teóricos podem ser localizados nas questões de compreensão do que é natureza e se ela possui direitos, de justiça ambiental, na ética ou naquilo que Leff define em seu livro, La Apuesta por la Vida (México: Siglo XXI, 2014)[1]

2-      Já como segunda etapa, complementar e integrada à anterior, deve-se pensar na adição de dois outros temas que vão ter forte incidência e envolvimento com o debate anterior e que se inscreve e institui na proposta do programa MADE (turma XI, em 2015, como construção de uma problemática de pesquisa em comum, intitulada CONFLITOS E (IN)JUSTIÇA AMBIENTAL, RESISTÊNCIAS, ESTRATÉGIAS E ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO.
Como bem sugere esse tema comum articulador, estamos diante de um debate que envolve atores/sujeitos/agências, dimensões de cultura e interculturalidade, governança e estratégias participativas (democracia), bem como estratégias que apontam para uma diversidade de experiências de construção alternativa de desenvolvimento.
Nesta segunda etapa, que pode vir intercalada em termos de dinâmicas de seminários, com a primeira etapa, para evitar uma certa linearidade na abordagem dos problemas, apresenta-se o debate sobre teorias da interculturalidade, descolonização, teoria dos conflitos e da ação social, bem como o mapeamento das experiências em curso sobre alternativas ao desenvolvimento.

3-      As pesquisas em andamento pelos diferentes pesquisadores que participam do Integrado em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade (nacionais e internacionais), além dos participantes da linha de pesquisa de Epistemologia Ambiental do MADE vão trazer seus resultados concretos (empíricos) nos temas relacionados a práticas materiais, conflitos políticos e culturais sobre alternativas de desenvolvimento. Deve-se observar também a importância que assumem as reflexões e os balanços sobre as diferentes metodologias oriundas desses estudos em andamento no interior do projeto maior de estudos integrados. Essas metodologias de estudos sobre conflitos, (in)justiça ambiental, dimensões interculturais e estratégias de desenvolvimento merecerão especial atenção, pois uma atitude reflexiva e interpretativa sobre as práticas de pesquisa são de fundamental importância para os programas interdisciplinares em meio ambiente e desenvolvimento. Caberá também espaço para essas dinâmicas de avaliação das metodologias empregadas (suas teorias e procedimentos de pesquisa).
4-      O que devemos ter presente por ora é a organização de uma agenda de seminários que, de comum acordo, terão que fazer parte das dinâmicas da linha, com regularidade nos encontros (quinzenais ou a cada três semanas), com textos e expositores inscritos e resultados esperados em termos de registro e estratégias de publicação, além de pensarmos em atividades intermediárias em forma de eventos, dos quais participarão todos (os que puderem, evidentemente) os participantes do Projeto de Estudos Integrados (nacionais e internacionais).
Neste sentido, está previsto um primeiro encontro internacional (que ao mesmo tempo é preparatório ao V CEPIAL, no contexto da Rede Casla-Cepial), em Popayán, Valle del Cauca, Colômbia, promovido pelo prof. Javier Tobar, antropólogo e coordenador de Projetos do Mestrado em Estudos Interdisciplinares do Desenvolvimento, entre os dias 17 e 20 de outubro de 2015.

5-      Devemos ter presente também as dificuldades de mobilização do coletivo de instituições e pesquisadores envolvidos no Projeto de Estudos Integrados e  de um senso de proporções que implica no dimensionamento do mesmo, seja em termos de presença e participação de todos os integrantes nomeados no projeto. À medida em que vamos desenvolvendo nossas atividades (de seminários, encontros e publicações) iremos dimensionando os diversos tipos de engajamento de cada um dos participantes. Neste sentido, temos a possibilidade de contar também com o pesquisador da UFMA, Prof. Joaquim Shiraishi Neto que desenvolve pesquisa sobre os direitos da natureza e as populações tradicionais, na perspectiva comparada entre experiências de Brasil, Bolívia, Colômbia e Equador.
A inserção de nosso projeto na Rede Casla-Cepial busca traduzir o caráter social da produção do conhecimento, além de buscar respostas para a questão ética de uma ciência pública e pertinente.


6-      Pauta da reunião do Coletivo de Epistemologia Ambiental (25/03/2015)
Local: CASLA
  roteiro de pauta:

-
Informes gerais sobre as atividades da Rede Casla-Cepial e suas próximas atividades
- Organização da apresentação do projeto de pesquisa da Epistemologia linha de  para  Terça-Feira dia 31 de março, às 14 horas no MADE.

- Qualificação (final de maio/15) doutorado de Adriana Ruela, Mara Monteiro e Ricardo Gama.
- Outros assuntos de interesse



[1] Este livro está composto de 6 partes, além da Introdução,  a saber: Introducción: El contexto epistemológico y la apuesta por la vida (P. 15-84); 1) Las ciencias sociales y la crisis ambiental(P. 85-141); 2) La sociedad ante la naturaleza: la construcción social de la sociología ambiental (p. 142-222); 3) Ecología Política: conflictos socioambientales, ontología de la diversidad y política de la diferencia (p.223-300); 4) Imaginarios sociales y sustentabilidad de la vida (p. 301-380); 5) Desvanecimiento del sujeto, reinvención de las identidades colectivas y reapropiación social de la naturaleza (p.381-443); 6) La constitución del campo socioambiental: movimientos sociales, sustentabilidad ambiental y territorios de vida (p. 444-498).

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