Projeto de Pesquisa registrado no CNPq cujo objetivo é reunir pesquisadores latino-americanos, com metodologia interdisciplinar, por meio de pesquisas, seminários e publicações em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade. Este projeto (2015-18) é coordenado pelo Prof. Dr. Dimas Floriani, responsável pela linha de Pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e inserido na Rede Internacional CASLA-CEPIAL Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos (Coordenação Geral de Casa Latino-Americana - CASLA). Clique para acessar o projeto.


ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

 Memória No.11 da reunião do Grupo de Pesquisa Epistemologia e Sociologia Ambiental (memória elaborada pelo Prof. José Thomaz Mendes), ocorrida em 22 de julho de 2015, nominalmente a partir das 14 horas, nas dependências da Casa Latino-Americana (CASLA). Presentes (com base também em lista de presença): Prof. Dimas Floriani, Profª Lúcia Helena de Oliveira Cunha, Profª Maria do Rosário Knechtel, Adriana Ruela, Christian de Britto, David Fadul, Flávio Ferreira, Geraldo Milioli, Rafael Braz, Ricardo Gama e José Thomaz. 1. Breve relato e ou apresentação de considerações sobre capítulos do livro “A Colonialidade do Saber”, organizado por Edgardo Lander. Passou-se então a breves relatos e ou apresentações de considerações sobre capítulos do livro A Colonialidade do Saber: eurocentrismo e ciências sociais; perspectivas latino-americanas (Buenos Aires: Clacso, 2005), organizado pelo sociólogo venezuelano Edgardo Lander. 2.1 Exposição de Ricardo Gama sobre o capítulo “O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-desenvolvimento?”, de Arturo Escobar. Ricardo Gama identifica no texto contraponto a globalização econômica, com base em experiências locais e com destaque para a dificuldade de trabalhar realidades locais. Percebeu aproximação com a ideia de globalismo localizado, do professor português, agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Boaventura de Sousa Santos. Identificou ainda as questões de como buscar alternativas a modelos de inspiração capitalista e de como dar visibilidade a outros modos de vida. E fez menção a que, com referência ao binômio sociedade-natureza, o Sul periférico vê o sujeito dentro do ambiente. Prof. Dimas comentou sobre a importância de identificarem-se as estratégias, isto é, como são entendidos os debates sobre a natureza e sobre o lugar. 2.2. Exposição de Adriana Ruela sobre o capítulo “O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-desenvolvimento?” de  Arturo Escobar. Adriana Ruela disse haver encontrado mais perguntas que respostas no texto, e que este tem grande mérito na nota política com ciência social pública, com destaque para atores sociais responsáveis.  Ricardo Gama observou, com referência ao exposto, o lugar como historicamente contextualizado. Prof. Dimas ponderou que a resistência nasce de uma (auto)consciência, e que a experiência é concreta, não abstrata (como seria uma sociedade alternativa). Citou o semiólogo italiano Umberto Eco, quanto ao binário apocalípticos e integrados, com os europeus sendo identificados com os segundos. Fez também menção à teoria do pós-desenvolvimento, do sociólogo peruano Arturo Escobar: indagando sobre o sentido que teria falar em pós-desenvolvimento, concluiu que, no fundo, este seria o retorno à política. Apresentou a questão da utilidade que isto teria para pensar um modelo de desenvolvimento, seguida da de ser ou não legítimo pensar diferente; e concluiu que a realidade mostra outros sinais, e que as ciências sociais precisam ficar atentas a eles. 2.3 Exposição da Profª Lucia Helena de Oliveira Cunha sobre o capítulo “Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da 'invenção do outro'”, de Santiago Castro-Gomes.  Profª Lucia Helena fez menção ao significado do projeto de modernidade com ênfase no conhecimento técnico-científico com contribuição das ciências sociais. Considerou a questão problemática não ser só olhar o outro, mas fazê-lo destituindo o outro de sua própria racionalidade. Mencionou a caracterização do Estado como garantidor da organização racional, com critérios científicos (citando práticas disciplinares), constituições, invenção da cidadania com identidades homogêneas, manuais de urbanidade e gramáticas de idiomas; a pós-modernidade assentada na globalização, com interrogação à ideia de fim da modernidade; a passagem do poder disciplinar ao poder libidinoso; no contexto colonial, a supressão da diferença, e no contexto pós-colonial, a necessidade de ajustar as ciências sociais ao capital global. E concluiu com a ideia composta de descolonizar as ciências sociais e a filosofia na América Latina; de livrar-se de categorias binárias; e de revitalizar a tradição da teoria crítica. Prof. Dimas lembrou que dialogar não quer dizer assimilar, e que é possível empreender um diálogo a partir das “brechas”, não remoendo eternamente a ideia de exploração. Lembrando da filósofa belga Isabelle Stengers, apresentou a questão de como se separam e como se distanciam o médico e o curandeiro. Profª Lucia Helena recordou a importância das referências históricas do antropólogo francês nascido em Bruxelas Claude Lévi-Stauss, e leu um trecho de um texto de Boaventura de Sousa Santos, no qual há menção aos conhecimentos tradicional e científico. Prof. Dimas considerou que não se tratar de anular a ciência, mas de coexistir, e mencionou o exemplo da cultura mapuche no Chile, que é reconhecida pelo Estado. Mencionou ainda o médico e geógrafo Josué de Castro e a concepção de uma geografia da fome; o educador Paulo Freire e as ideias de resistência e de nacionalismo; o líder nacionalista cubano José Martí; o semiólogo argentino Walter Mignolo e as ideias de uma dupla consciência e dos povos silenciados; a sociologia do desenvolvimento; o crítico literário nascido em Jerusalém sob o Mandato Britânico da Palestina Edward Saïd; e a ideia de um inventário para identificar a emergência da colonialidade. Neste último particular, considerou que a colonialidade tem uma história, na qual se identifica insurgência contra a condição de subalterno; e que Walter Mignolo posiciona a colonialidade na perspectiva geopolítica. Prof. Dimas indagou em que ponto a colonialidade está presente nos interesses de pesquisa dos membros do grupo, e considerou que são reivindicados espaços de reflexão contra-hegemônicos. Fez menção à teoria do sistema mundo, creditada ao sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein. E reconheceu que, no fundo, existe uma epistemologia, um novo modo de olhar, diferente das epistemologias europeia e norte-americana; neste particular, advertiu quanto ao perigo de naturalizar o pensamento, e qualificou o livro do sociólogo peruano Danilo Martuccelli intitulado ¿Existen individuos en el Sur? (Santiago de Chile: LOM) como equilibrado entre Europa e América Latina. Profª Lucia Helena perguntou como o Prof. Dimas vê a contribuição do engenheiro mexicano Enrique Leff. Prof. Dimas respondeu que Leff traz uma novidade que não faz sentido para a Europa; e considerou que na Bolívia el buen vivir já é uma espécie não utópica de realidade. Fez ainda menção à antropóloga inglesa Marylin Strathern, em cuja tese de doutorado estudou as relações matrimoniais e disputas de corte entre o povo Melpa, na Nova Guiné; o antropólogo francês Philippe Descola; e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, no contexto de uma agenda para repensar o conceito de natureza. Profª Maria do Rosário mencionou a importância de ver o homem como parte da natureza. Prof. Dimas citou a contribuição do médico austríaco Sigmund Freud no particular em que este considerava a neurose como decorrente, em medida importante, do afastamento entre o ser humano e as condições naturais da vida; e a advertência do filósofo prussiano Immanuel Kant de que, para além da lógica, é necessária a ética. Profª Maria do Rosário mencionou a concepção de comportamentos tidos como superiores e de outros tidos como superiores. Prof. Dimas observou que a cultura indígena não está incorporada no cultura brasileira em geral. Christian destacou a importância de evitar a “sociologia do ressentimento”, e Profª Lucia Helena, a de evitar comportamentos binários ou mutuamente alternativos. Prof. Dimas reiterou a importância de aproveitar as “brechas” europeias, citando brevemente o químico russo naturalizado belga, e laureado, em 1977, com o Prêmio Nobel de Química, Ilya Prigogine, e Isabelle Stengers; e mencionando a ideia, creditada a Boaventura de Sousa Santos, de uma visão europeia como visão particularista do universal. Considerou ainda Brasil, Equador e Uruguai como realidades distintas, elas que foram estudadas por um teórico alemão; e que, por exemplo, os construtos teóricos sobre política democrática desenvolvidos pelo cientista político estadunidense Robert Dahl teriam dificuldade para serem aceitos na cultura (política) brasileira. 2.4. Exposição da Profª Maria do Rosário sobre o capítulo “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”, de Aníbal Quijano. Profª Maria do Rosário iniciou com breve informação sobre o autor e sobre as referências usadas no texto, no qual identificou, por assim dizer, uma tríplice análise: crítica, documental e histórico-descritiva. Identificou como pressuposto a descolonização da sociedade como ponto de partida da referência eurocêntrica, com destaque para a feliz expressão “tempo de deixar de ser o que não somos”. Identificou, na qualidade de alternativa ontológica, a diferença entre colonialismo e colonialidade. Reconheceu, no texto, a importância do papel criativo do intelectual e a caracterização da globalização como culminância da colonização da América Latina e como triunfo do capital. Notou que o autor usa o conceito de raça como construção mental, que ressalta o caráter colonial. Em termos de categorias, identificou: a América e o novo padrão de poder mundial; raça como categoria mundial da modernidade; a colonialidade do poder e o capitalismo mundial; o capitalismo com forma de exploração do trabalho; um novo padrão de poder mundial e uma nova intersubjetividade mundial; a questão da modernidade e sua relação com o poder eurocêntrico; o capital e o capitalismo; e considerou também os dualismos duplamente caracterizados homogeneidade/continuidade e heterogeneidade/descontinuidade. Prof. Dimas fez menção aos Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana (São Paulo: Alfa-Ômega), de autoria do sociólogo e jornalista peruano José Carlos Mariátegui, originalmente publicados em língua espanhola (Lima: Minerva, 1928); à expressão “marginalidade social”, identificada com a obra de Aníbal Quijano; e considerou que colonialidade é diferente de colonialismo.