Minuta de memória No. 15 (elaborada pelo Prof. Dr. José Thomaz Mendes Filho)
Reunião do Grupo de Pesquisa
Epistemologia e Sociologia Ambiental, ocorrida em 30 de setembro de 2015,
nominalmente a partir das 14 horas, nas dependências da Casa Latino-Americana
(CASLA). Presentes: Prof. Dimas Floriani, José Edmilson de Souza Lima,
Claudia Picone, Alexandre Hedlund, David Fadul, Guido Mejías e José Thomaz.
1.
Informes. Prof. Dimas informou sobre a existência de um edital CASLA
referente a migrantes. Informou também haver realizado inscrição em edital
internacional, relacionado à Faculty of Theology and Religion da University of
Oxford (Reino Unido), que contempla categoria relacionada a migração,
demandando financiamento para realização de duas oficinas com grupo internacional,
equipamentos, pesquisa empírica e publicações.; e que o edital contempla
pesquisas nas línguas espanhola e portuguesa. Mencionou também o Dr. Ignacio
Silva, Research Fellow do Ian Ramsey Centre for Science and Religion, da
referida universidade. E reconheceu que a participação no edital confere
aspecto mais institucional à pesquisa.
2. Considerações sobre as teses e a
dissertação em andamento. Prof. Dimas interrogou sobre como desenhar um
plano de ação em quarenta dias, e considerou que se poderia partir de uma
epistemologia comum e, a partir dela, derivar para os temas das teses e
dissertação. Considerou que epistemologias do Norte são logocêntricas,
identificando-as com razão e com filosofia da ciência a partir da ideia de
tipos ideais, e que epistemologias do Sul são híbridas, e comportam saberes
culturais e políticos, contestando um logocentrismo eurocêntrico, desde os anos
sessenta do século vinte, comportando cultura autóctone, científica e cultural
indígena, não somente na América Latina, mas no então chamado Terceiro Mundo.
Prof. Dimas fez menção aos referidos anos sessenta, citando movimentos de
libertação na África e guerras no Vietnã; e também ao líder congolês Patrice
Émery Lumumba, ao psiquiatra, filósofo e revolucionário francês, nascido na
Martinica, Frantz Omar Fanon e ao médico e revolucionário argentino Ernesto
“Che” Guevara. Considerou que, por assim dizer, as coisas não nascem sozinhas;
que os movimentos ambientalistas tiveram origem nos anos setenta do século
vinte, e citou artigos do professor português e Grande-Oficial da Ordem de
Sant'Iago da Espada Boaventura de Sousa Santos e do sociólogo peruano Aníbal
Quijano. Reconheceu a existência de resistências epistêmicas ou, mais
amplamente, do pensamento, comprovadas por insurgências política e cultural, e
pelo feminismo, por meio do pensamento feminista anglo-saxônico. Disse que
Boaventura de Sousa Santos considera o feminismo como uma nova expressão
epistêmica, e indagou: que categorias serão articuladas nesse novo pensar? Que sujeitos?
Que margens? Considerou também as bordas ou margens, relacionando-as à dimensão
molecular, citando o intelectual francês Pierre-Félix Guattari. Reconheceu
necessidade de apresentar novidades, que na hegemonia não há espaço para elas e
que, por isso, há que se pensar aquilo que se faz fora do campo disciplinar.
Nesse particular, fez menção ao Direito e a áreas de fronteira, indagando sobre
os tipos de resistências disciplinares que surgiram e, de modo mais explícito:
por que pensar outras possibilidades? David considerou a necessidade de focar
na obrigação formal do texto. Disse haver vários objetivos e ver dificuldade em
concatenar tantos temas. Prof. Dimas considerou ser possível realizar a tarefa
a partir de textos indicados para leitura, de autoria de Boaventura de Sousa
Santos e também do sociólogo venezuelano Edgardo Lander e do professor de
Sociologia francês Danilo Martuccelli. Considerou a possibilidade de elaborar,
por assim dizer, uma plataforma a partir da qual seja possível derivar os textos.
Claudia perguntou quais são os itens necessários, e sobre se esses seriam as
epistemologias do Norte e do Sul, justiça e injustiça. Prof. Dimas concordou
com essa possibilidade, mas observou ser necessário indicar os temas, e citou o
exemplo da subalternidade, teoria com rebatimento em situações reais de vida de
moradores de rua e de encarcerados. Nesse momento, Edmilson chegou. Prof. Dimas
resgatou, brevemente, do que se falava, e perguntou a Edmilson qual era sua
ideia sobre o tema. Edmilson perguntou se já houvera sinalização prévia. Prof.
Dimas disse que sim, mas que seria mais fácil cada qual pensar por si. Sugeriu
que o trabalho coletivo avançasse na perspectiva de epistemologia tendo como
categorias centrais alternatividade, justiça e injustiça, com por volta de dois
terços do texto para fundamentação e aproximadamente um terço dele para temas
de pesquisa individual. David perguntou em que partes se deve dividir o texto.
Prof. Dimas disse que seria possível que os professores Dimas, Edmilson e Thomaz
ficassem com a fundamentação teórica, e que os alunos ficassem com as
categorias ou temas. David disse achar simples, mas que acha que haverá
pluralidade de visões. Prof. Dimas e Edmilson consideraram que isso é positivo.
Prof. Dimas considerou que o dissenso permite distanciamento, e Edmilson, que
dissenso, em um sentido importante, é o contrário do que propõe o filósofo e
sociólogo alemão Jürgen Habermas, embora reconheça existirem, por assim dizer,
coisas em comum entre ambas as propostas. Prof. Dimas informou que viaja de 17
de outubro a 9 de novembro. Edmilson mostrou-se favorável a manter a agenda,
conduzindo as reuniões. Claudia disse ser necessário definir datas. Prof. Dimas
considerou a eventual possibilidade de negociar para entregar o texto no dia 17
de novembro; e que seria desejável uma apresentação do coletivo por linha.
Claudia considerou ótima a contribuição dos professores, e disse querer
aprofundar a reflexão sobre as epistemologias, e sugeria a possibilidade de uma
pequena aula. Disse ainda que, no contexto das mudanças climáticas, ela acha
interessante conhecer as epistemologias do Sul e do Norte; e que parece que a
questão da justiça e da injustiça ficou muito em torno de textos de Henri
Acselrad.
Prof. Dimas considerou que o debate sobre justiça e injustiça
socioambientais expressa um padrão de desigualdades. Considerou ainda que ética
e filosofia política, nos países anglo-saxônicos e nórdicos, são de matriz
liberal; que a neurocientista Suzane Herculano-Houzel tem matriz marxista, com
destaque para desigualdade social; e que o professor de filosofia política
norte-americano John Rawls, que desenvolveu uma teoria da equidade, é de matriz
liberal, e considera que sem liberdade não há equidade, que difere de
igualdade, esta de matriz mais marxista. Considerou que igualdade é boa no
marxismo, que é débil para pensar a liberdade. E fez menção a uma teoria da
subalternidade, relacionando-a à questão do oprimido e, ao fazê-lo, citou o
educador Paulo Freire e Frantz Omar Fanon. Disse ainda da quase provisoriedade
dos textos, mesmo dos provisórios. Edmilson disse não ver problema em haver
sido apresentados textos de Henri Acselrad, e que acha que a falta de outros
textos abre a perspectiva de tensionar, sem submeter-se a quem for, de modo que
as pessoas podem reivindicar seu direito de dissentir. Prof. Dimas considerou a
questão de participar de bancas de trabalhos que contemplam outros autores, e
fez referência a trabalho de Maria Fernanda Cherem, que identifica resistências
no litoral do Paraná, e que reúne contribuições de Edward Palmer Thompson,
historiador marxista heterodoxo inglês, e de James Campbell Scott, cientista
político e antropólogo norte-americano, que pensa a questão de movimentos
sociais. Disse ser possível aproximar autores sem necessária fidelidade com
suas teorias. Fez menção a Loïc Wacquant, professor de Sociologia francês, e
disse que temos que ser criadores como os filósofos. Lembrou que o filósofo
francês Gilles Deleuze dizia que a função dos filósofos é criar conceitos, compreender
e aceitar a provisoriedade dos textos. Disse haver hipóteses que surgem no
final de uma reflexão, e que criatividade deve coexistir com rigor.
Thomaz
disse que, a seu ver, o mestrado é uma ocasião propícia para conhecer teorias,
autores, e para identificar-se ou não com elas e com eles. Que o doutorado, a
seu ver, não pode prescindir de compromisso com originalidade e com relevância,
referenciadas a marco(s) teórico(s). Que, ainda a seu ver, a tese, isto é, a
contribuição original e relevante, deve ser proposta necessariamente pelo
doutorando, e não pelos orientadores. Que estes, a seu ver, contribuem de modo
significativo ao indicar leituras que ampliam a cultura e ou o conhecimento do
doutorando sobre o tema por ele desenvolvido na tese. E que, apesar da
dedicação, uma tese de doutorado, a seu ver, depende, por assim dizer, de uma
inspiração, e que esta não pode ser de antemão garantida: acontece se e quando
acontece. E concluiu que, a seu ver, indícios de originalidade e de relevância
devem ser requeridos já por ocasião do processo de seleção dos doutorandos,
pois, a seu ver, não há como garantir que, durante o curso de doutorado, eles
venham, de fato, a produzir uma tese. Alexandre disse que talvez não haja tempo
suficiente para trabalhar com os temas.
Prof. Dimas disse que, no momento, se
está a levantar os andaimes. Com referência a epistemologia, disse ser
importante buscar as teorias que são pertinentes, necessárias; que os
orientadores colaboram mas são falíveis; que umas respostas servem, e outras,
não. Alexandre considerou a possibilidade de o trabalho ser produzido
coletivamente utilizando de recursos da internet. Prof. Dimas disse da
importância de buscar, por assim dizer, momentos fortes nas trocas. E que há
diversas motivações, umas mais empíricas, outras menos. David perguntou se os
cinco alunos darão seguimento a suas inquietações. Alexandre fez menção à
relação entre justiça e conflito. David apresentou uma errata referente a uma
sua manifestação em reunião anterior, relacionada a Têmis e a Nomos. E indagou
sobre questões formais do trabalho. Prof. Dimas disse que o documento final
pode ter entre trinta e cinquenta páginas. Edmilson mencionou o número de
trinta e cinco páginas, considerando possibilidade de publicação ancorada nas
reflexões singulares de cada um e explicitando questões. Considerou haver falta
desse tipo de publicação. , e que as reflexões trazem momentos de inspiração.
Prof. Dimas indagou em que medida uma epistemologia do Sul pode abrigar
perguntas como que venham a ser trazidas pelos doutorandos e pelo mestrando.
Edmilson indagou quanto a em que medida se identificam limites para as
epistemologias do Sul, para que não se ter, por assim dizer, uma ideia
idealizada. E também a necessidade, por assim dizer, de um conhecimento vivo,
acompanhada de questionamento sobre como se pode revitalizar o conhecimento.
Prof. Dimas fez menção a questões tradicionais e pontuais, citando subalternidade, marginalidade e os limites da
democracia. Edmilson citou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman,
relacionando-o a uma questão ou problema de efeitos colaterais. Prof. Dimas
considerou que a lógica do sistema é excluir, e não incluir. Mencionou a
importância de pensar coisas novas oriundas de um nosso indagar; e que quando
conseguimos formular uma questão nova, é que conseguimos compreendê-la. Guido
perguntou sobre a composição, isto é, sobre como ligar o interesse de pesquisa
com o tema ambiental. Sobre como construir um aspecto teórico ligado a justiça
socioambiental. Considerou que justiça é conceito ainda mais amplo, e indagou
como acontecem as políticas social e penal. Prof. Dimas indagou sobre o que
seria justiça social. Fez menção a marginalidade espacial, com remoção para as
margens. Edmilson disse que Curitiba inova. Que a cidade tem nove regionais por
meio das quais se descentraliza o poder público. Que se fez estudo para
identificar territórios vulneráveis. Fez menção a um cadastro único, que
contempla nove territórios e que reúne muitos dados. Que esses territórios
estão em áreas de ocupação irregular, em que se identifica uma pluralidade de
violências. Que esses territórios são mapeados e muito bem localizados. Claudia
perguntou se tais territórios são em áreas de mananciais e ou em margens de
rios, e considerou que, em situações em que isso ocorre, a população deixada à
margem exerce impacto sobre a população que a deixou à margem. Edmilson
considerou que o empírico serve de teste para teorias que hajam sido construídas em outros ambientes;
que o empírico contribui para o refinamento do pesquisador. Fez menção a um
caso presenciado no território identificado como Mar da Galileia, à beira do
rio Iguaçu, no qual havia uma adolescente amarrada em uma ferrovia; que uma
assistente social e também pessoas da comunidade indagavam qual a razão de ser
daquilo, e descobriram que o alvo, no caso, eram os pais da adolescente. E
destacou a importância de dedicar atenção a situações de realidades. Claudia
mencionou situação semelhante vivida pela família de sua diarista.
Prof. Dimas
fez menção ao conceito de controle desenvolvido pelo psicanalista francês
Jacques-Marie Émile Lacan, relacionando tal conceito, no caso, a um controle
realizado pelos próprios marginalizados. Edmilson identificou carência de
estudos verticais. Prof. Dimas considerou que a universalidade trabalha com a
ordem do molar, do previsível, e pouco com a marginalidade. No contexto das
atividades dos doutorandos e do mestrando, disse que as perguntas a serem
elaboradas pelos alunos serão avaliadas pelos professores, a ver se surgem perguntas
de fundo. Edmilson perguntou em que medida a Linha dará contribuição singular,
do tipo de livro. Prof. Dimas disse que o que se está pensando em fazer é como
se fosse uma introdução de um livro. Edmilson considerou que um livro poderia,
a partir de uma pergunta maior, servir inclusive para novas turmas. Prof. Dimas
fez menção à greve dos técnico-administrativos da UFPR, complicando prazos
pré-estabelecidos na Editora da UFPR, que se estava cogitando em publicar livro.
Que a lógica de hoje, ao que parece, é que o autor paga para publicar. Fez
rápida menção a direitos autorais em forma de livro, e considerou que o livro é
veículo de publicação mais adequado nas ciências humanas, embora a lógica de
produtividade acadêmica, para não dizer produtivista, seja fortemente marcada
pela cultura de publicar em periódicos. Prof. Dimas e Edmilson comentam sobre a
revista Desenvolvimento e Meio Ambiente,
do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR. 3.
Encaminhamentos. Ficou definido que
a próxima reunião será no dia 21 de outubro, seguida de reunião em 11 de
novembro, para refinamento do trabalho. A entrega e apresentação dos trabalhos
individuais, no MADE, está agendada para 10 de dezembro/15.
Curitiba, 16 de outubro de 2015.
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