Ata no. 19 de
memória da reunião do Grupo de Pesquisa Epistemologia e Sociologia Ambiental, (elaborada pelo Prof. Dr. José Thomaz Mendes Filho) ocorrida em 9
de dezembro de 2015, nominalmente a partir das 14 horas e 30 minutos, na Casa
Latino-Americana (CASLA).
Presentes: Prof. Dimas Floriani, Profª Lúcia Helena de Oliveira Cunha, Profª
Maria do Rosário Knechtel, Alexandre Hedlund, David Fadul, Guilherme Silva,
João Vitor Fontanelli Santos e José Thomaz.
1.
Preliminares. Profª Lucia Helena disse pretender
dedicar-se a atividade de escrever, e apresentou justificativa para ausência de
Cláudia, por convalescença. Prof. Dimas apresentou ao grupo o sociólogo e
mestre em antropologia social João Vitor Fontanelli Santos. Informou também
sobre o I Encontro Nacional sobre Tendencias e Desafios Ambientais (I Entenda), ocorrido nos dias 25 e 26
de novembro de 2015 em São Luís. Prof. Dimas disse ver uma ponte interessante
entre a área de atuação de João Vitor e atividades desenvolvidas no âmbito da
Rede CASLA-Cepial. Profª Maria do Rosário chegou. Prof. Dimas disse que Edmilson
havia justificado, previamente, sua ausência. Seguiu-se breve comentário sobre
o processo de seleção de candidatos ao Programa de Pós-Graduação em Meio
Ambiente e Desenvolvimento da UFPR (MADE). Profª Lucia Helena comentou sobre o
número significativo de suicídios na população indígena. João Vitor fez breve
menção a seus temas de interesse: trabalho com comunidades tradicionais e com
populações indígenas, e fez menção à tribo dâw, contemplada em sua dissertação
de mestrado. Citou também ao povo indígena caigangue, que, segundo disse, conta
12 mil pessoas no Paraná e 34 mil pessoas no Sul do Brasil. Disse que a renda
dos caigangues provém da venda de artesanato e de benefícios sociais. Fez breve
menção à política curitibana de casa de passagem, na qual reconhece a
necessidade de separar a população de rua em grupos segundo características
identitárias. Disse que casais podem permanecer até 20 dias em uma casa de
passagem. Disse que a presença de indígenas na cidade é consequência de esbulho
por eles sofrido em suas terras de origem. Disse que 80% dos caigangues que
chegam a Curitiba provêm da reserva indígena Rio das Cobras, localizada, assim
o disse, no município de Laranjeiras do Sul. Profª Maria do Rosário perguntou
sobre o tempo de permanência dos indígenas na casa de passagem. João Vitor
disse ser de 20 dias. Profª Lucia Helena perguntou se não seria interessante
haver um conselho, no sentido de dar visibilidade à população indígena. Profª
Maria do Rosário perguntou que práticas os educadores sociais fazem. João Vitor
citou crianças em situação de rua, acompanhando suas mães. Profª Lucia Helena
disse ser importante falar não só do índio na cidade, mas também da trajetória
do índio que vem à cidade, e considerou que sua visibilidade só ocorrerá se ele
trouxer sua cultura para a cidade. Pro. Dimas mencionou o Prof. José Roberto
Vasconcelos Galdino, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Disse que
a CASLA conta com a assistência jurídica de advogados que atuam na CASLA-Jur, e
reconheceu a necessidade de consultar os indígenas em situações que exercem
impacto sobre eles. Profª Maria do Rosário fez menção ao educador social e a
sua importância. Thomaz perguntou como acontece o mencionado esbulho. João
Vitor disse que se trata de um processo histórico de afastamento do indígena de
suas terras. Prof. Dimas fez menção ao Prof. Jorge Montenegro, do Departamento
de Geografia, Setor de Ciências da Terra da UFPR, e ao Prof. Alfredo Wagner, da
Universidade do Estado do Amazonas, relacionando-os ao debate sobre populações
tradicionais. E disse da intenção de convidar um filósofo de formação para
integrar o Grupo de Pesquisa. Profª Maria do Rosário fez menção à Profª Ana
Tereza Reis da Silva, da Universidade de Brasília, destacando o interesse da
referida professora pela educação ambiental.
2.
Considerações sobre as teses em andamento.
2.1 Guilherme
Silva: identificou como marcos teóricos a teoria
das representações do psicólogo social francês nascido na Romênia Serge
Moscovici e a psicologia cognitiva do epistemólogo suíço Jean Piaget. João
Vitor despediu-se e ausentou-se. Profª Lucia Helena indagou sobre o objeto da
pesquisa e se o trabalho contemplaria as representações dos discentes, e
destacou a importância de identificar percepções. Prof. Dimas disse da importância
de identificar, também, ausências. Profª Lucia Helena disse que a ideia de
hipótese tem matriz em contextos de verificação. Profª Maria do Rosário
considerou que hipótese trabalha com quantidade. Prof. Dimas ponderou que as
coisas servem a um público e não a outro. Profª Lucia Helena localizou no
trabalho do sociólogo, psicólogo social e filósofo francês Émile Durkheim a
origem das representações sociais, desvinculando-as da Psicologia; citou o
filósofo, economista e psicanalista francês nascido no Império Otomano
Cornelius Castoriadis, e o professor francês Gilbert Durand, relacionando este
último ao estudo das estruturas antropológicas do imaginário. Prof. Dimas citou
a professora francesa Denise Jodelet, e recomendou consulta à obra do pedagogo
e filósofo Moacir Gadotti. Guilherme concordou. Profª Lucia Helena apresentou a
questão de como o imaginário institui, ou não, práticas. Thomaz disse ser
possível adotar Moscovici e Piaget, autores do século XX, como marcos teóricos,
contanto que se identifiquem referências no século XXI que revelem que as
contribuições desses autores continuam, por assim dizer, vivas, e relevantes
nas respectivas áreas de atuação. Partindo do mencionado contexto da educação
ambiental, considerou também uma diferença importante entre a educação de
adultos e a educação de não adultos, no particular em que adultos devem poder
escolher se querem ou não receber determinado tipo de educação, enquanto que
essa decisão, no caso de não adultos, cabe a quem por eles seja responsável. Prof.
Dimas considerou que o imaginário se situa próximo do mito, e que o mito é
atemporal; e fez menção ao Prof. Nelson Vergara Muñoz, do Centro de Estudios
Regionales da Universidad de Los Lagos (Chile), por seu trabalho com quotidiano
e imaginário. Profª Maria do Rosário disse ter material proveniente da Espanha.
Guilherme citou ainda o filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno, no contexto
dos temas autonomia e heteronomia.
2.2 Alexandre
Hedlund: disse trabalhar com os temas espaço
marginal, cultura do controle e marginalidade urbana. Que a questão central em
sua pesquisa é o espaço marginal, a exclusão e a invisibilidade do subalterno,
e a fragilidade epistêmica da marginalidade. Prof. Dimas indagou sobre se vale
ou não apena incluir os excluídos, no sentido particular de saber se eles
querem, ou não, ser incluídos. Citou o filósofo italiano Giorgio Agamben,
relacionando-o à “biopolítica”, e o filósofo francês Michel Foucault. Profª
Lucia Helena fez menção a saberes ambientais. Alexandre fez menção ao livro Os
Condenados da Terra (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968),
originalmente publicado em língua francesa com o título Les Damnés de la
Terre (Paris: Maspero, 1961), de autoria do psiquiatra, filósofo e ensaísta
francês Frantz Fanon; e também ao conceito de Homo sacer. Prof. Dimas
citou a filósofa política belga Chantal Mouffe e o filósofo esloveno nascido na
Iugoslávia Slavoj Žižek. Profª Maria do Rosário disse da necessidade de se ter um ideal.
Prof. Dimas fez menção ao livro Mil Platôs (São Paulo: 34, 1995),
originalmente publicado em língua francesa com o título Mille Plateaux
(Paris: Minuit, 1980), de autoria do filósofo Gilles Deleuze e do intelectual
Félix Guattari, ambos franceses; e também ao livro Manicômios, Prisões e
Conventos, (São Paulo: Perspectiva, 2015) de autoria do cientista social,
antropólogo, sociólogo e escritor canadense Erving Goffman, originalmente
publicado em língua inglesa com o título Asylums: essays on the social
situation of mental patients and other inmates (New York: Anchor Books,
1961). Comentou que, com a experiência nessas instituições, os indivíduos, por
assim dizer, deixam de ser o que eram e passam a ser outras pessoas. Profª
Maria do Rosário comentou que as pessoas que trabalham nessas instituições
também sofrem influência do ambiente. Prof. Dimas e Profª Maria do Rosário
mencionaram o livro Vigiar e Punir: nascimento da prisão (Petrópolis:
Vozes, 1987), de Michel Foucault, originalmente publicado em língua francesa
com o título Surveiller et Punir : naissance de la prision (Paris:
Gallimard, 1975). Alexandre fez menção ao problema de considerar os componentes
material e simbólico.
2.3 David
Fadul: disse já haver falado sobre o
desenvolvimento de sua tese na reunião próxima passada. Prof. Dimas disse ser
importante identificar se existe diferença de grau ou de natureza entre os
sujeitos cognoscentes individual e coletivo; e considerou marginal o direito
coletivo no sentido de que a racionalidade do direito desenvolve-se a partir da
perspectiva do indivíduo. David esclareceu não propor exclusão mútua entre
sujeito individual e sujeito coletivo. Prof. Dimas mencionou o livro Massa e
Poder (São Paulo: Companhia das Letras, 1992), originalmente publicado em
língua alemã com o título Masse und Macht (Düsseldorf: Claassen, 1960),
de autoria do escritor búlgaro-britânico Elias Canetti, laureado com o Prêmio
Nobel de Literatura em 1981, e também, por seu trabalho na área de etologia,
racionalidade e irracionalidade, Konrad Lorenz, biólogo austríaco nascido no
Império Austro-Húngaro e agraciado com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou de
Medicina em 1973. Reconheceu na obra de Deleuze e Guattari a ideia de
agenciamento. Disse da importância de não se simplificar exageradamente a
manifestação dos autores, e observou que a afirmação de que cada indivíduo age
no coletivo por causa da coletividade é tautológica se não se explicar como
ocorre essa ação e em que medida há multiplicidade de situações que
possibilitem entender que o comportamento coletivo não é algo naturalizado ou
essencializado, válido para todas as circunstâncias e indivíduos. Curitiba, 12
de dezembro de 2015.
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