Minuta da memória No. 16 (elaborada pelo Prof. Dr. José Thomaz Mendes Filho)
Reunião do Grupo de Pesquisa Epistemologia e Sociologia Ambiental, ocorrida
em 21 de outubro de 2015,
nominalmente a partir das 14 horas, na sala de aula do Programa de
Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR (PPGMade). Presentes:
Prof. José Edmilson de Souza Lima, Profª Maria do Rosário Knechtel, Claudia
Picone, Alexandre Hedlund, David Fadul, Guido Mejías e José Thomaz.
1.
Informes. Prof. Edmilson deu início à reunião. Alexandre informou que
Guilherme Silva não poderia comparecer. E Katya também havia informado da
impossibilidade de comparecimento.
2. Considerações sobre as teses e a
dissertação em andamento. Edmilson e David disseram haver compreendido que
as páginas referentes à interface entre o tema mais geral da (in)justiça
socioambiental e as intenções de pesquisa dos alunos eram para ser discutidas
na reunião de então, e Claudia, Alexandre e Thomaz, que não haviam compreendido
desse modo. Claudia perguntou se os professores comentariam os textos. Thomaz informou
haver encaminhado, por mensagem eletrônica, seus comentários sobre o texto de
Claudia. Edmilson perguntou a Clauda como ela vê a inserção de seu interesse de
pesquisa no tema mais amplo e comum. Claudia considerou que a forma como se
tratam as mudanças climáticas é hegemônica, e que estaria interessada em
conhecer como o tema seria visto por autores do Sul, e também como proceder
diante da possibilidade de trabalhar com análise de discurso. Edmilson
perguntou a Claudia se ela conhece a tese em desenvolvimento de Eloísa Belling
Loose, que contempla comunicação e mudanças climáticas, e que, segundo
informado por Edmilson, trabalha com a ideia de percepção a partir de consulta
a jornais. Consultado quanto a número de páginas, Edmilson disse que 250 (duzentas
e cinquenta) páginas seria um número razoável. Alexandre disse que procurou
trabalhar com estruturas e com como se operam injustiças.
Citou o livro que,
traduzido ao português, ganhou o título Globalização: as consequências
humanas (Rio de Janeiro: Zahar, 1999), do sociólogo polonês Zygmunt Bauman,
o filósofo e historiador das ideias francês Michel Foucault, o jurista e
sociólogo norte-americano David Garland, um livro do sociólogo alemão Norbert
Elias, em coautoria com John Scotson, que ganhou a versão em português Os
Estabelecidos e os Outsiders (Rio de Janeiro: Zahar, 2000), e o
psicanalista francês Jacques Lacan. Mencionou também espaços marginais e a
problematização de justiça e de injustiça, a rotulação dos criminosos e o
problema do controle. Edmilson sugeriu ler Danos colaterais: desigualdades
sociais numa era global (Rio de Janeiro: Zahar, 2011), de Bauman. Profª
Maria do Rosário chegou. David disse preocupar-se com como os conceitos são
utilizados na prática da pesquisa. Disse haver analisado o uso que o Prof.
Henri Acselrad fizera dos termos justiça e injustiça, qual seja o de haver tendência de o sujeito cognoscente
isolar um certo vetor, pensando em como esse sujeito se aproxima dos vetores no
“emaranhado” (Souza-Lima). Edmilson considerou a ideia de tensionar os
conceitos de justiça e de injustiça, indagando, por exemplo, sobre em que
condições se produzem textos de justiça e de injustiça. Disse que Claudia
discorre sobre como mudanças climáticas são consideradas a partir de
epistemologias do Sul; como essa questão é aí tensionada, se é que o é. Que
Alexandre considera como ocorre esse tensionamento dentro de espaços marginais,
destacando a importância de fazer isso sem se comprometer com determinado
autor. Reconheceu haver ponto em comum entre diferentes interesses de pesquisa.
Claudia disse partir da hipótese de que as mudanças climáticas são tratadas a
partir da epistemologia do Norte.
Edmilson disse que as epistemologias do Sul
se apresentam de modo singular, alternativas ao hegemônico. Citou as mini-racionalidades consideradas pelo
professor português, Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada, Boaventura
de Sousa Santos, em Pela Mão de Alice: o social e o político na
pós-modernidade (Coimbra: Almendina, 2013). E que, no campo da análise do
discurso, há que se captar elementos das falas, ao identificar como é que os
grupos constroem ideias de justiça e de injustiça. David fez menção a trabalhos
na bacia do rio Verde, considerando que Claudia já partiria da premissa de que
as pessoas já deveriam estar cientes, e de que a injustiça seria elas não
estarem conscientes disso. Claudia considerou que a injustiça decorre de que a
ênfase é econômica e não social; que há injustiça em como o problema é
trabalhado; e que o que o hegemônico propõe não é materializável. David
considerou a diferença entre problema social e problema sociológico, presente
em Invitation to Sociology: a humanistic perspective (New York: Open
Road, 2011), do sociólogo e teólogo austro-americano Peter Ludwig Berger; e que
a comunicação é destinada a poucos. Profª Maria do Rosário mencionou o projeto
Gpontes, e disse que as construções foram realizadas em local antes ocupado por
famílias sem que estas houvessem recebido adequada informação prévia. Que nesse
projeto fora desenvolvido um subprojeto de comunicação e educação ambiental.
Identificou presença de injustiça ambiental no caso mencionado. E que o projeto
contemplara epistemologia tendo em vista haver contemplado elaboração de
teoria. Alexandre mencionou a invisibilidade dos sujeitos. David sugeriu dar-se
um passo em direção de aspectos teóricos. Edmilson citou o sociólogo francês
Pierre Bourdieu, no particular em que este destacava a importância de criar
sentidos. Considerou que o PPGMade também cria sentidos. Disse ter a impressão
de que Claudia já teria, previamente, uma resposta à pesquisa. E que, nesse
caso, a crença pode conduzir a resultados previamente esperados. Alexandre
mencionou brevemente como sua proposta se caracteriza como injustiça,
destacando a invisibilidade dos marginalizados. Edmilson considerou a
importância de dialogar com a realidade.
Thomaz considerou duas formas de
invisibilidade social: que, por uma, os indivíduos invisíveis o seriam por não
terem seus direitos respeitados; e, por outra, por não haver previsão legal de
direitos a que eles, no plano moral, lhes deveriam ser assegurados. Edmilson
destacou a necessidade de tensionar os conceitos, e de considerar que são
percebidos de formas diferentes. Fez menção ao filósofo francês, nascido na Argélia,
Jacques Derrida, ao antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour e a teoria do
ator-rede, a este último creditada. Citou ainda Acselrad e o filósofo alemão
Karl Marx, mais especificamente as Teses Sobre Feuerbach, no particular
em que o autor, nelas, discorre sobre o conceito de práxis. Considerou que um
discurso único não é compatível com a interdisciplinaridade; que em ciência não
se deve lançar mão de argumentos ad hominem, e que Marx, na fase final
de sua vida, teria dito que ele mesmo não era marxista. Profª Maria do Rosário
lembrou a postura de Marx ao declarar que a Filosofia criara as teorias da
realidade, e que era então chegado o tempo de transformá-la. David considerou
que uma coisa é comparar autores, e que o tensionamento vai além da comparação.
Edmilson considerou que a linha de epistemologia tem que reivindicar ocupar-se
com como é produzido o conhecimento. Disse que o que o mantém próximo ao
PPGMade relaciona-se aos contornos do conhecimento; e que os pesquisadores
devem explicitar suas origens (autores, escolas). Profª Maria do Rosário disse
que ainda há confusão no uso do termo práxis, que reúne ação, reflexão e ação
no método dialético e que, portanto, não se pode resumir, de modo simples,
apenas em teoria e prática. Edmilson disse ser simpatizante de uma proposta
didática com menos aulas e com mais conversa. Profª Maria do Rosário disse
identificar, no PPGMade, a interdisciplinaridade como práxis. Edmilson lembrou
que em sua turma, o ponto de contato temático entre os doutorandos fora a categoria
de complexidade, com cinco ou seis autores selecionados para referência em
sínteses provisórias. Que, nessa ocasião, se buscara identificar conexões
ocultas entre obras do engenheiro mexicano e doutor em Economia Enrique Leff,
do físico austríaco Fritjof Capra, do antropólogo, sociólogo e filósofo francês
Edgar Morin e do Prof. Dimas Floriani. David disse haver tensionado os
conceitos de justiça e de injustiça. Guido disse haver produzido cinco folhas
sobre justiça, injustiça, a colonização do saber, justiça e injustiça
cognitiva, a teoria da marginalidade, do sujeito subalterno, o discurso oficial
e o discurso dos marginalizados, a pessoa de rua, e o sujeito marginal. Disse
que gostaria de ter acesso a mais bibliografia sobre o sujeito subalterno.
Edmilson perguntou a Guido se ele pretende realizar trabalho de campo. Guido
respondeu haver mantido contato com um indivíduo na Casa Latino-Americana
(CASLA), e que identificou relação com políticas públicas. Que pretende
realizar a maior parte do trabalho de campo no Chile. Disse haver mantido
contato com um dirigente que houvera mencionado uma reunião em Brasília, e que
gostaria de conhecer como se faz mediação nesse contexto. Edmilson perguntou a
Guido se ele estava a considerar somente manifestações de dirigentes ou também
de outras pessoas. Guido respondeu que precisa fazer relato também de não dirigentes.
Edmilson perguntou a Guido sobre prazo. Guido respondeu que o exame de
qualificação está previsto para setembro de 2016, e que considera apresentar
talvez uma síntese de teorias da marginalidade. Edmilson perguntou a Guido o
que, no atual estágio, a reflexão diz sobre a questão da justiça e da
injustiça. Guido citou ligação com a ideia de ecologia dos saberes. Considerou que o grupo não é composto somente
de sociólogos, e que pretendia contemplar, também, os temas desenvolvimento
sustentável e desenvolvimento humano. Profª Maria do Rosário perguntou se Guido
elegeria uma rua, uma comunidade, para realizar a pesquisa. Guido respondeu que
tem interesse por lugares com maior concentração de pessoas com perfil
compatível com o da pesquisa, e que pretende realizar trabalho de campo no
Chile. Edmilson perguntou se Guido conhecia as legislações brasileira e chilena
sobre o assunto.
Guido respondeu que o dirigente oferece alguma informação
nesse sentido. Edmilson perguntou se no Chile há muita gente em situação de
rua, e informou que em Curitiba, segundo dados da Fundação de Ação Social
(FAS), são aproximadamente quatro mil. Guido disse não saber o número chileno.
Edmilson disse que essas pessoas chegam ao grande centro em busca de vida
melhor. Profª Maria do Rosário disse que talvez seja possível realizar trocas
quanto a referenciais teóricos. Claudia disse que, com a circulação dos textos
produzidos, identificou ligação entre as pesquisas de Guido e de David, e
sugeriu tensionar justiça e injustiça. David indagou sobre o tempo disponível
para as atividades, e sobre qual seria o encaminhamento a ser dado. Edmilson
perguntou aos presentes qual seria esse encaminhamento. Guido propor ver
aspectos contemplados pelos outros e encaminhar para Edmilson. Edmilson lembrou
que os professores precisam do material para fazer, por assim dizer, a costura
entre os diferentes textos, e que a ideia é fecundar os temas para que surjam
as teses. Considerou que a reunião fora bem produtiva, e que se poderia
produzir aproximadamente vinte páginas, mas com conteúdo; produção a partir das
questões trazidas pelos alunos.
Profª Maria do Rosário considerou que um dos
alunos poderia construir, por assim dizer, um texto unificando os textos
particulares seu e dos colegas. Edmilson indagou sobre que pergunta unificaria
esses textos particulares. Alexandre propôs que fosse: quais são as injustiças
socioambientais nos espaços marginais? David: como os conceitos de justiça e de
injustiça são utilizados nas pesquisas? Guido: como a injustiça caracteriza o
sujeito subalterno? Ou: como se caracteriza a injustiça no ambiente subalterno?
Profª Maria do Rosário: a injustiça social permeia o planejamento, as políticas
públicas, com vistas a melhoria das condições socioambientais de vida na
atualidade? Que conceito de injustiça ambiental permeia as perguntas sobre o
tema? Claudia: o processo de comunicação mantém a injustiça? A comunicação
ambiental reforça condições de injustiça ou é capaz de transformá-las, de
produzir menos injustiça, ou mais justiça? Thomaz ausentou-se da reunião, tendo
em vista compromisso no Centro Politécnico. Ficou definido que a próxima reunião
será no dia 28 de outubro/15.
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