Projeto de Pesquisa registrado no CNPq cujo objetivo é reunir pesquisadores latino-americanos, com metodologia interdisciplinar, por meio de pesquisas, seminários e publicações em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade. Este projeto (2015-18) é coordenado pelo Prof. Dr. Dimas Floriani, responsável pela linha de Pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e inserido na Rede Internacional CASLA-CEPIAL Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos (Coordenação Geral de Casa Latino-Americana - CASLA). Clique para acessar o projeto.


ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).



terça-feira, 15 de setembro de 2015

Memória No. 12 da reunião do Grupo de Epistemologia e Sociologia Ambiental (elaborada pelo Prof. José Thomaz Mendes).

 A reunião ocorreu em 2 de setembro de 2015, nominalmente a partir das 14 horas, nas dependências da Casa Latino-Americana (CASLA). Presentes: Prof. Dimas Floriani, José Edmilson de Souza Lima, Profª Maria do Rosário Knechtel, Katya Isaguirre, Claudia Picone, Mara Monteiro, Alexandre Hedlund, David Fadul, Guido Mejías, Guilherme Silva e José Thomaz. 1. Informes. Prof. Dimas apresentou o sociólogo chileno Guido Mejías, que realiza mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR. Katya informou sobre visita à Itaipu Binacional (Parque Tecnológico): relatou sobre possibilidade de realização de pesquisas com georreferenciamento, sobre concepções de alternativas ao desenvolvimento a partir de experiências locais, e sobre interesses de pesquisa na interface entre epistemologia e conflitos socioambientais na América Latina, cabendo ao Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE) apresentar interesses de pesquisa; disse haver percebido existir muito interesse de pesquisa comum, e propôs que seja feita uma apresentação geral a eles do Ppgmade e de seus interesses de pesquisa. Thomaz apresentou breve relato da leitura do texto de Alejandro Moreno intitulado “Superar a exclusão, conquistar a equidade: reformas, políticas e capacidades no âmbito social”, que integra o livro A Colonialidade do Saber: eurocentrismo e ciências sociais; perspectivas latino-americanas, organizado por Edgardo Lander (Buenos Aires: Clacso, 2005): disse haver percebido, no texto, a importância das relações de confiança que se estabelecem entre comunidades nas quais as pessoas se conhecem mutuamente, e que essa relação de confiança provavelmente encontraria dificuldade, se não mesmo impedimento, para ser estendida a grupos significativamente maiores, nos quais, por assim dizer, os laços de conhecimento mútuo ficariam tênues ou mesmo inexistentes. Prof. Dimas mencionou a contribuição do sociólogo, cientista político e historiador norte-americano Charles Tilly, que, em estudos sobre movimentos sociais, identificou três tipos de reivindicações: de identidade, de permanência e de programa, e que reconheceu a complexidade da relação entre movimentos sociais e democratização; destacou, na obra do autor, a importância de elementos emocionais e coletivos. Citou o economista alemão Albert Otto Hirschman, e sua proposta teórica segundo a qual, percebido decréscimo na qualidade ou no benefício experimentado por membros de organizações, estes podem dela sair, ou retirar-se da relação (no original em língua inglesa, exit) ou pronunciar-se no sentido de buscar reparar ou melhorar a relação (no original, voice). E o também economista e cientista social norte-americano Mancur Olson, que se destacou no contexto dos estudos sobre ação coletiva.
A obra de Charles Tilly, seus trabalhos sobre movimentos sociais, nos anos 1970, foi um marco, ela combateu teorias economicistas e psicologizantes, explicando, internamente, ao campo político, o processo de mobilização coletiva. Tilly apresenta a lógica dos confrontos políticos e modo como se relacionam com o contexto político, social e econômico. O relacionamento complexo dos elementos culturais com os processos políticos.  Seu estudo histórico comparativo sobre a ação coletiva, tem como referência os séculos XVIII e XIX, Tilly demonstra que cada época tem um repertório diferente e uma forma de organização que torna o movimento mais ou menos eficiente. Na perspectiva da sua sociologia do conflito, Tilly foi um crítico do individualismo metodológico, da microssociologia e da Teoria da Escolha Racional.   O "repertório" não é propriedade exclusiva de um dado grupo, mas uma estrutura compartilhada de conflito. Ele pode ser mais ou menos limitado, segundo cada estrutura histórica de conflito. O confronto é entendido como estruturante. Não se pode recorrer a um esquema de atores lançando mão de meios para o alcance de fins específicos, ou seja, o emprego de um repertório dado de meios, como propõe a Teoria da Escolha Racional. O conceito de "repertório" trata de interações, relações, entre grandes grupos de atores, e não ações isoladas. O conceito é relacional, uma interação entre várias partes. O "repertório" é estrutural e estruturante, engloba formas de pensar, desejos, valores e crenças e sua transformação. É, portanto, um conhecimento social sedimentado, composto por memórias e acordos compartilhados. Implica em padrões e nas suas variações, o repertório delimita as possibilidades da rotina, como uma língua que varia nas falas e dialetos, ou na performance individual. O conceito de "repertório" é utilizado para explicar a ação coletiva, o limitado leque de opções no confronto político, em determinados períodos históricos, dentro de processos culturais de longa duração e de suas correspondentes transformações sociais. Tilly chegou ao conceito de "repertório", a partir da teoria interacionista de E. Goffman e do conceito de "mentalidade" da Escola de Annales, extraindo elementos das duas correntes, constituindo, assim, a sua metodologia de pesquisa e estudo da "política contenciosa".
 2. Apresentação de interesses de pesquisa de doutorandos e de mestrando. Passou-se à apresentação dos interesses de pesquisa dos doutorandos e do mestrando. 2.1. Interesses de pesquisa de Alexandre Hedlund. Na exposição de Alexandre observaram-se os temas: cultura de controle, política criminal ou criminalidade, quotidiano e criminalidade urbana, espaço marginal, epistemologia do Sul, e cultura democrática. Prof. Dimas e Alexandre dialogaram brevemente sobre o tema, e no diálogo surgiu menção à Escola de Chicago (de Sociologia) e ao sociólogo francês Loïc Wacquant. Prof. Dimas citou o sociólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu, em particular sua obra que ganhou a tradução A Miséria do Mundo (Petrópolis: Vozes, 2003), e a necessidade de dar voz e vez à marginalidade. Indagou em que medida os atores se incluem na prática de resistência e de alternatividade; o que é a democracia em uma sociedade heterogênea; e se o estado seria insensível à realidade dos marginalizados. Katya mencionou o impacto ambiental dos presídios. Prof. Dimas destacou que o tema “espaço marginal” suscita desenvolvimento interdisciplinar, citando Direito e Antropologia. 2.2 Interesses de pesquisa de David Fadul. Na exposição de David observaram-se os temas: conhecimento, metodologia, sujeito cognoscente, campo ambiental, epistemologia. Foi citada a obra Compêndio de Epistemologia (São Paulo: Loyola, 2008), organizada por Ernest Sosa e John Greco. Prof. Dimas considerou que política é ideologia: julgamento moral. Indagou sobre a validade de estabelecer regras gerais para pesquisa, e sobre se, em caso de resposta positiva, uma das funções da epistemologia seria estabelecer essas regras gerais. Considerou, também, a possibilidade de um debate acerca de uma epistemologia política. Katya mencionou o problema de identificar o que é dominante e o que é periférico no contexto de uma epistemologia do Sul. Prof. Dimas fez menção à diferença entre conceito e noção, e considerou que um sujeito cognoscente é indivíduo e também sujeito coletivo. Considerou que a ideologia é, por assim dizer, uma espécie de cláusula pétrea do conhecimento. E, no contexto da neurociência, citou Oliver Wolf Sacks, neurologista anglo-americano e Comendador da Ordem do Império Britânico. Profª Maria do Rosário comentou sobre o epistemólogo suíço Jean Piaget no contexto da cognição e da explicação. 2.3 Interesses de pesquisa de Guilherme Silva. Na exposição de Guilherme observaram-se os temas: saberes, gênese da epistemologia, discurso socioambiental, conflitos, alternatividades, teoria da complexidade, educação ambiental, e teoria das representações. Prof. Dimas considerou que uma sociedade existe em razão das produção e reprodução materiais e simbólicas. Katya indagou sobre a chance, se houver, de o periférico deixar de ser periférico; citou Alain Touraine, sociólogo francês e sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras; e fez menção ao contexto da construção do discurso interpretativo dominante, com destaque para como se constroem os discursos mantenedores de conflitos, os de busca por soluções, e os mantenedores de invisibilidades. Edmilson perguntou se existe intenção de realizar estudo empírico. Apresentou questões referentes às condições nas quais são produzidos, negados, excluídos e legitimados os conhecimentos, por assim dizer, mais do Sul do que de outro lugar; inclusive para pensar a questão dos moradores de rua. Citou, como exemplo, o caso do Condomínio Social em Curitiba, relacionando-o à visibilidade dos moradores de rua na qualidade de sujeitos de direitos, e não a partir de discurso moralizante. Indagou sobre ser ou não preciso fazer surgir um conhecimento que se reconhece como marginal. Citou a contribuição do Prof. Francisco Mendonça, no contexto de uma epistemologia especializada, aplicada à Geografia, e indagou sobre a existência ou não de um campo ambiental na Geografia. Citou Pierre Bourdieu no particular em que considera que um nomos define um habitus, e um estudo que objetivava identificar existência, ou não, do que poderia ser chamado de colonização da geografia brasileira a partir de concepções europeia; estudo cuja conclusão, segundo informou, mostrou não existir tal colonização. Profª Maria do Rosário citou contribuição de Philippe Layrargues, que convida a refletir sobre a possibilidade de uma (maior) aproximação entre Sociologia e educação ambiental. Profs. Dimas e Maria do Rosário comentaram sobre a prática prazerosa de produzir conhecimento; sobre o lado bom da interdisciplinaridade enquanto exercício intelectual acadêmico. Edmilson mencionou uma experiência de turma no processo de construção de conhecimento interdisciplinar. Prof. Dimas, ao considerar, por assim dizer, o lançamento das bases do pensamento que está sendo construído, indagou sobre os subcampos que seriam necessários. Lembrou a influência que o Cristianismo exerce na cultura brasileira, e indagou sobre os fundamentos em que se assenta a iniciativa de dar voz aos moradores de rua. 2.4 Interesses de pesquisa de Guido Mejías. Na exposição de Guido observou-se interesse em trabalhar epistemologia, metodologia e confiabilidade de dados referentes a problemas latino-americanos. Considerou que em Curitiba, cidade com relativamente alta qualidade de vida, existem moradores de rua, seguindo-se menção ao problema de como as instituições geram discursos. Comparando as realidades curitibana e chilena, particularmente no que se refere a instituições, destacaram-se os conceitos de instituição, dos sujeitos, e a tensão entre eles. E considerou-se que se o discurso chileno, no passado, tivesse sido escrito, talvez poderia ter resultado em consequências mais favoráveis a populações hoje em situação de desvantagem. Prof. Dimas comentou sobre o caso de um morador de rua que, por coerência com seu discurso, legara a seus familiares uma morada, mas que por coerência com sua prática política, passou a viver também na rua.

Finalizando a reunião, convocou-se a próxima reunião para o dia 16 de setembro, no mesmo local de sempre. Na primeira parte da próxima reunião, a ideia é de continuar aprofundando a proposta de construção de uma problemática de pesquisa que contemple os interesses dos doutorandos e mestrando, a fim de propiciar uma oportunidade para elaborar um documento comum que servirá, ao mesmo tempo, de relatório do coletivo da linha de Epistemologia Ambiental e também como ponto de partida de cada aluno para a elaboração de seus respectivos temas de tese/dissertação. Na segunda parte da reunião, serão comentados dois capítulos de livros, organizados por Boaventura de Sousa Santos.  O primeiro deles, “Introdução: para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo” (co-autoria de Boaventura de Sousa Santos, Maria Paula G. de Meneses e João Arriscado Nunes), do livro Semear Outras Soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais, p. 21-121, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. O segundo capítulo, de autoria de Boaventura de Sousa Santos, “Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes”, do livro Epistemologias do Sul (Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Meneses, orgs.), São Paulo: Cortez Editora, 2010.

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