Projeto de Pesquisa registrado no CNPq cujo objetivo é reunir pesquisadores latino-americanos, com metodologia interdisciplinar, por meio de pesquisas, seminários e publicações em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade. Este projeto (2015-18) é coordenado pelo Prof. Dr. Dimas Floriani, responsável pela linha de Pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e inserido na Rede Internacional CASLA-CEPIAL Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos (Coordenação Geral de Casa Latino-Americana - CASLA). Clique para acessar o projeto.


ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).



terça-feira, 13 de agosto de 2019

Comunicado 6 – Linha de Epistemologia Ambiental – 13/08/2019


Após formalmente concluída em julho/19 a primeira etapa da Oficina 4 da turma XIII (2018-2022) do doutorado PPGMADE-UFPR, o(a)s doutorando(a)s juntamente com o(a)s docentes da Linha de Epistemologia preparam o Relatório Final das atividades realizadas no primeiro semestre/19, a ser entregue até o final do mês de agosto/19.

O roteiro de apresentação do referido relatório está assim organizado:

PROBLEMÁTICA DA PESQUISA INTERDISCIPLINAR:

A produção de desigualdades sociais e os sujeitos plurais no contexto da modernidade periférica e crise socioambiental.



 (RELATÓRIO DA OFICINA IV (1ª. Fase) – Construção de problemática(s) de pesquisa(s) da linha de Epistemologia Ambiental

I-             Apresentação geral: histórico e metodologia da Construção da oficina IV

INTRODUÇÃO



a.    Apresentação geral: histórico e metodologia da Construção da Oficina IV

II-            A EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA DA LINHA EPISTEMOLOGIA AMBIENTAL

III-     INTERMITÊNCIAS DA MODERNIDADE PERIFÉRICA CAPITALISTA: desenvolvimento como signo de crescimento econômico e fragilidades democráticas em contextos latino-americanos de heterogeneidade estrutural



a)    MODERNIDADE PERIFÉRICA:  LIMITES DO DESENVOLVIMENTO



b)   MODERNIDADE PERIFÉRICA:   FRAGILIDADES DEMOCRÁTICAS E OS CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO (VULNERABILIDADES SOCIO-ETNO-TERRITORIAIS).



IV-           DIAGRAMAS PARA REPRESENTAR AS DINÂMICAS ENTRE OS SISTEMAS DOMINANTES, DE BORDA E HÍBRIDOS: territorialização das zonas de diferenciação/transição, conflitos e coexistências



a)    Diagrama I – Representação dos Sistemas Dominantes, de Borda e Híbridos, com suas zonas de diferenciação, conflitos e espaços de interações

b)    Diagrama II – Dinâmicas intersistêmicas com seus elementos constitutivos

c)    Diagrama III – Interatividade e recursividade intersistêmica



d)    DIAGRAMA IV: Ação pendular do Modelo Desenvolvimentista em Crise (MDC)





e)    QUADRO I: Dinâmicas dos atores situados nas bordas, sua capacidade de respostas e recursos mobilizados tendendo à autonomia ( seguidos por sinais + e – )



f)     QUADRO II: Dinâmicas de Produção de Sistemas de Borda e Híbridos (- e + Inclusivos)



V-           Produção de subjetividades no contexto da modernidade periférica: percursos para a constituição de um sujeito ecológico?[1]

VI-          V. Racionalidades em contextos culturais diferenciados[2]

VII-        ARTICULAÇÕES DOS DIVERSOS TEMAS DE PESQUISA, COM O MODELO TEÓRICO (Sistema de Interação Societal - SIS) – Doutoranda(os) da Turma XIII (2018-2022) – PPGMADE – UFPR

VIII-       Propostas de pesquisa do(a)s doutorando(a)s ainda em fase de construção temática (títulos provisórios)

DIEGO SILVÉRIO: Dimensões híbridas do bem viver e da saúde comunitária  

GIOVANNA CARLA BARRETO : Implicações socioecológicas do trabalho da mulher na pesca de arrasto de camarão 

RÍVEA MEDRI - Modelo Heurístico da linha de Epistemologia Ambiental e a Gestão da Água

ROBERTO JOSÉ COVAIA KOSOP - O Paraíso Imperfeito: a profanação decolonial ante a sacralidade jurídica.



[1] Esta apresentação sobre a produção de subjetividades se apoia na seção do capítulo 4,  de nossa autoria (FLORIANI, 2019) e que consta do compêndio coletivo do livro Ética Socioambiental (2019), publicado pela Editora Manole, em coedição com IEA-USP, organizado por Philippi Jr., Sampaio e Florit.
[2] Apoiamos esta seção sobre racionalidades no capítulo de Floriani (2019, no prelo), com o título de  Teorias socioecológicas e abordagens de problemas socioambientais: epistemes e racionalidades plurais.

SOBRE HEGEMONISMOS, PÓS HEGEMONISMOS E CONTRA-HEGEMONISMOS - Comunicado 5


Acreditamos que o universalismo, a comunicação de nossa civilização homogeneíza as relações entre os homens. Eu penso o contrário:  que o que caracteriza nosso século - e não podemos deixar de perceber isto - é uma segregação ramificada, reforçada, que se sobrepõe em todos os graus, e não faz senão multiplicar as barreiras” (J. LACAN – citado no blog – Lacan em.pdf - https://lacanempdf.blogspot.com/ )

A revolução não é a destruição do capitalismo, mas a recusa em cria-lo” ( John Holloway – Fissurar o Capitalismo)

Preâmbulo

Para podermos pensar as dinâmicas do Capitalismo em escala global e dentro ou tangencialmente a ele a Modernidade Periférica, é necessário elencar algumas das principais discussões (aceitas ou controversas) acessíveis publicamente sobre o caráter desse novo capitalismo.

“Novo”, no sentido de que o capitalismo possui intrinsecamente uma resiliência que se alimenta de seus contrários, inclusive. Há interpretações sobre essa resiliência, em especial sobre aspectos redistributivos da riqueza produtiva, que são creditadas ou condicionadas ao tipo de contestação que tem sido feita à dinâmica de acumulação do capital. Assim, ao longo do século XX, a distribuição da riqueza social adviria das lutas sindicais e de grupos e movimentos sociais que reivindicavam ganhos redistributivos, tornando menos predatórios os mecanismos de exploração ou de concentração da riqueza para os proprietários dos meios de produção e do capital financeiro.

O Estado tem sido um instrumento dessa mediação, embora sua função não seria apenas de regular temas econômicos, mas sua atribuição é complexa, pois trata da regulação, controle e coerção, pela administração jurídico-política das instituições estatais, o que inclui a coexistência dos poderes nele instalados, com os respectivos sistemas ou regimes políticos, isto é, se se trata de um sistema democrático com representação partidária, sistema de representação mista ou outra forma de efetivação do poder (executivo monocrático, parlamentarismo, monarquia, equilíbrio dos 3 poderes, etc.).

É necessário elencar um conjunto de temas que podem indicar em que esse “novo” capitalismo se diferencia dos outros capitalismos, não apenas daqueles que classicamente foram abordados criticamente, especialmente pelas teorias do Sistema Mundo, do Desenvolvimento do Capitalismo e de suas sucessivas crises, principalmente pelas teorias marxistas ou estruturalistas.

Em geral, as dinâmicas desse capitalismo em permanente metamorfose tem sido abordadas pelas características dadas pela centralidade de sua designação, a saber, as dinâmicas do Kapital (escrevo com K, pois simbolicamente nos remetemos a obra maior de Marx, o Capital). Outra das características de sua abordagem refere-se à sua temporalidade, ou seja, seu aspecto histórico. Daí que alguns epígonos dessas leituras são marcados pela historiografia, como é o caso de Hobsbawn, sem desconsiderar as teorias da revolução que marcaram as obras de caráter marxista, desde praticamente 1848, com o Manifesto Comunista, como epifenômeno das crises econômicas e políticas desse sistema.

Acrescente-se a essas leituras, as teorias do Poder em Foucault que vão além e se diferenciam das interpretações clássicas de classe e de lutas de classe, sublinhando que o poder é muito mais difuso e amplo daquele analisado pelas teorias da exploração e da dominação de classe. O poder, neste sentido, abarca os dispositivos corporais, da produção da subjetividade e discursividade, captadas pelos agenciamentos de inúmeros dispositivos (prisões, sexualidade moldada pelo sistema de moralidade instituída, loucura, arquitetura, aparelhos repressivos do Estado, práticas religiosas, etc.)

Longe de querermos abordar toda a história do capitalismo, tarefa que envolveria um projeto de vida (começada em tenra idade, evidentemente!), deve-se ressaltar a necessidade de indagar outras dimensões dessa dinâmica sistêmica, isto é, não apenas de desenho estrutural dado por interpretações da economia e da política, embora indissociáveis dos demais fenômenos que configuram esse sistema em escala mundial.

Quer dizer, fenômenos da economia (mercado, trabalho, comércio), da política (poder, governança, democracia, autoritarismo), da cultura, da ideologia, da arte, da ética, da tecnologia (mídia, automação), da natureza (crise socioambiental, “globalização da natureza e natureza globalizada” segundo Porto Gonçalves), dos modos de vida, da produção de subjetividades, das ciências, etc. podem ser vistas interconectadas, desde que mereçam um tratamento aprofundado em cada um desses aspectos articulados e articuladores do processo de constituição de emergências. 

Neste sentido, pensar a dinâmica da produção material das sociedades implica na busca de compreensão das novas modalidades de trabalho, do desemprego estrutural e tecnológico, do subemprego, da ausência de garantia de renda e daquilo que Richard Sennet vai designar como a corrosão do  caráter desse neocapitalismo, se comparado com aquilo que foi o clássico capitalismo industrial, com a formação de uma estrutura de classes definidas, visíveis e suas correspondentes formas de organização social e política (sindicatos, partidos, parlamento, políticas sociais) e um determinado modelo de sistema político de relativa estabilidade democrática pluripartidária.

Essas transformações radicais ocorrem nas sociedades pós-industriais do centro, antecipadas há algumas décadas pelas teorias de Alain Touraine (anos 1990), por Manuel Castells (2000) e depois discutidas por Streeck (“Como vai acabar o capitalismo?”), Negri,  Harvey, Sennet, Boltanski/Chiapello, Bauman e mais recentemente por Thomas Picketty. Todas elas são portadoras de uma intenção totalizadora ou de grandes mudanças, de caráter estrutural que muitas vezes dificultam perceber como essas transformações ocorrem em pequena escala, tanto no centro como na periferia desse Sistema Mundo.

Para ilustrar o que pretendemos apontar nas intenções de leitura desses fenômenos, em particular daqueles que devem ser verificados por pesquisas empíricas, constituídas por experiências de vida (e de morte), nas entranhas dessas capilaridades sistêmicas centrais e periféricas.

Aquilo que nas teorias clássicas críticas ao capitalismo, especialmente na relação capital x trabalho, indicado muitas vezes como produção de mais-valia, ou simplesmente como exploração, como fica essa relação no mundo do trabalho precarizado, fora do trabalho industrial, tais como no setor serviços (transporte, terceirização dos trabalhos chamados de estética ou cuidados do corpo, etc.).

A excessiva carga de trabalho que nos remete às 14 ou 18 horas da primeira revolução industrial na Inglaterra, de motoristas de caminhão, de taxis[1], de homens e mulheres dos cuidados de estética, como alguns exemplos, sem falar das atividades informais de ambulantes, diaristas, professores de 3 períodos, inclusive.

As novas Tecnologias Digitais e a ascensão de redes sociais teriam destruído o conceito de privacidade, pelo surgimento do Panóptico Digital? Essa invasão da intimidade tem seu correlato na formatação de outros sentidos de exposição dessa intimidade, pela formatação de novas fantasias do desejo?

A mundialização do capitalismo subverteu também a ordem de representação da doença e da saúde. Eduardo Jardim em seu livro “A Doença e o Tempo” (Ed. Bazar do Tempo), faz um apanhado histórico sobre o surgimento da Aids, destrincha sua relação com a militância LGBT e discute a maneira como a doença afeta a percepção da temporalidade, do sexo e da morte.

A desigualdade nas sociedades periféricas, com ênfase no caso brasileiro. O livro de Pedro H.G. Ferreira de Souza,  Uma História de Desigualdade, Editora Hucitec, 2019, detalha a concentração de renda no Brasil de 1926 a 2013 e investiga os efeitos de democracia e ditadura na distribuição de riquezas.



Algumas referências bibliográficas para discussão em seminário

BEASLEY-MURRAY, Jon – Poshegemonía – Teoría política y América Latina. Buenos Aires: Paidós, 2010

HOLLOWAY, John – Fissurar o Capitalismo. São Paulo: Publ!sher, 2013

HARVEY, David – Espaços de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

Outra economia é possível: Cultura e economia em tempos de crise  -Manuel Castells – RJ: Editora Zahar, 2019


ECONOMIA DONUT – Kate Raworth, ed. Zahar, 2019 – 367 pgs.








[1] Em maio de 2019 estive participando no IEA-USP, São Paulo,  do lançamento do livro ‘Ética Socioambiental’, do qual sou autor do capítulo 4. No trajeto do aeroporto até a Universidade, tive a oportunidade de ouvir longas histórias do taxista sobre como sobrevive como terceirizado, tendo que pagar semanalmente pelo aluguel do carro. Acorda às 04 horas da manhã e trabalha direto até às 21 horas, todos os dias. Vindo da Bahia, não pratica nenhuma outra atividade salvo frequentar a igreja evangélica que lhe forneceu a linguagem figurada da bíblia para falar de si, do mundo, e dos demais. Este taxista anônimo representa, por assim dizer, a imagem da moderna exploração, no capitalismo periférico, sobre a qual se referia Marx quando analisava o aumento da jornada de trabalha, ou a mais valia absoluta.

MODERNIDADE PERIFÉRICA: FRAGILIDADES DEMOCRÁTICAS E OS CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO (VULNERABILIDADES SOCIO-ETNO-TERRITORIAIS).


1.    Assim, pensar a questão da constituição dos sistemas de poder nessas sociedades estruturalmente heterogêneas merece problematiza-la desde a fragilidade e as intermitências da democracia, que a exemplo do desenvolvimento  persegue o caminho incerto do crescimento econômico, eleito como carro-chefe simbólico (sua razão metonímica, para empregar uma expressão de Boaventura de Sousa Santos), pelas elites do poder e da economia como solução às graves crises de reprodução material do capitalismo periférico.

2.    Em grande medida, o debate sobre os limites, potencialidades  e  obstáculos da democracia em situações de modernidade periférica deve remeter-se  aos sujeitos desde as margens ou bordas do sistema de representação política em contextos nacionais e de mercado na América Latina,  bem como suas articulações internacionais. Assim, a esse respeito formula-se a seguinte pergunta: em que medida podem coexistir ou se são (in)compatíveis múltiplos sistemas políticos, econômicos, socioambientais, etno-inter-culturais, para a estabilidade democrática das sociedades nacionais ou transnacionais?  Metaforicamente, pode-se associar o poder do sistema hegemônico ao que corresponde, para a astrofísica, os buracos negros. Ambos operam por fagocitose, eliminando qualquer possibilidade de sobrevivência autônoma.

3.    Repensar a questão democrática nas atuais condições históricas e políticas da América Latina exige deslocar-se do modelo teórico vigente, situado no Estado e nos imaginários desenvolvimentistas das elites que giram ao seu entorno e que deixam de lado a rede de relações e conflitos sociais, em grande parte invisibilizada e criminalizada, como no caso de algumas populações tradicionais camponesas, indígenas, afrodescendentes, povos ribeirinhos e da floresta, ou seja, sujeitos subalternos do campo, do mar, de setores urbanos marginalizados pelos processos de gentrificação, desemprego e de violência gerada pela exclusão social e pela incapacidade de resposta do Estado neoliberal e de mercado.

4.     A modernidade periférica com seu processo de modernização conduz aos limites da injustiça ambiental, uma vez que combina elementos de herança colonial com a crítica oriunda da reemergência de sujeitos sociais, historicamente invisibilizados e silenciados. Esses novos-antigos sujeitos se redefinem ao politizar seus agenciamentos frente ao modelo hegemônico de desenvolvimento periférico e ressignificam suas estratégias em busca de alternativas ao desenvolvimento, no lugar de reafirmar as propostas de alternativas de desenvolvimento.

5.     A história das experiências de construção de autonomias e de alternatividades são tecidas em alguns países latino-americanos e as narrativas sobre o saldo de suas ações coletivas já possuem um acervo significativo de reflexões e de publicações. O encontro com essas diferentes construções pode assim constituir-se em um amplo programa de pesquisa, incorporando o que já foi produzido com o que está sendo construído, redefinido pelos pesquisadores e pelos próprios sujeitos coletivos e suas organizações sociais, colaboradores e apoiadores de tais novidades (ESCOBAR, 2014, LEFF,2015, CUSICANQUI,2010 y 2016, LECHNER, 2007, QUIJANO,2010 entre outros).

6.    Já que um dos objetivos centrais de nossa proposta de pesquisa é verificar em que medida a modernidade periférica tende a ser um epifenômeno da modernidade ocidental devemos verificar como essa maneira de afirmar especificidades se estabelece. Mais do que uma forma desviante do processo típico-ideal da racionalidade ocidental, o que merece ser debatido e analisado são os fundamentos estruturantes e híbridos que emergem da historicidade periférica, cujos exemplos podem ser buscados, principalmente, nos processos histórico-culturais latino-americanos, africanos e asiáticos. Para tanto, devemos tentar comparar os mecanismos típico-ideais analisados por Weber e retomados por Habermas (1987, p. 224), ao buscar a conexão empírica entre os diferentes fenômenos do racionalismo ocidental, partindo de quatro dispositivos sistêmicos:

“1) esferas culturais de valor (ciência e técnica, arte e literatura, direito e moral), como componentes da cultura; 2) sistemas culturais de ação, em que se elaboram sistematicamente as tradições sob os diferentes aspectos de validez: organização do trabalho científico (universidades e academias), organização do cultivo de arte (com a institucionalização da produção, distribuição e recepção da arte, e da instância mediadora que representa a crítica de arte), o sistema jurídico (com a formação de especialistas em direito, a ciência jurídica e a publicidade jurídica), e finalmente, a comunidade religiosa; 3) os sistemas centrais de ação que fixam a estrutura da sociedade: a economia capitalista, o Estado moderno e a família nuclear; 4) sistema de personalidade, as disposições para a ação e as orientações valorativas típicas que acompanham o comportamento metódico na vida e a sua alternativa subjetivista”. (FLORIANI, 2013: p. 108).



7.    O agenciamento dessas quatro esferas é feito pelo mundo da vida, uma vez que os sujeitos atuam comunicativamente, segundo Habermas, se entendem/desentendem no horizonte de um mundo da vida que está formado de convicções de fundo, mais ou menos difusas e sem grandes problemas de aceitação.

8.    Este modelo típico-ideal da racionalidade ocidental, pareceria responder aparentemente a formas estáveis e hierarquicamente ordenadas, porém só na aparência.

9.    O trabalho de investigar as particularidades dos mecanismos de racionalidade do capitalismo periférico (modernidade periférica) exige um esforço de localização dessa produção intelectual crítica, como já destacado acima no item 5. Em texto citado de nossa autoria (FLORIANI, 2013, nota 40, pág. 109), lembrávamos que a questão da articulação/disjunção/hibridação entre formas diferenciadas de ordens e sistemas de origem civilizacional diversa é uma das variáveis a ser problematizada.

INTERMITÊNCIAS DA MODERNIDADE PERIFÉRICA CAPITALISTA: desenvolvimento como signo de crescimento econômico e fragilidades democráticas em contextos latino-americanos de heterogeneidade estrutural


1-    As intermitências da modernidade periférica capitalista estão associadas de início ao desenvolvimentismo dependente, e mais recentemente ao capitalismo financeiro-rentista, de matriz neoliberal globalizada: ambos modelos incapazes de implementar políticas redistributivas e ecologicamente sustentáveis. (Para uma discussão sobre capitalismo financeiro-rentista, consultar Bresser Pereira (2018).

2-    Para situar o debate sobre algumas categorias de análise, partindo da noção de modernidade periférica, em oposição/complementaridade com a modernidade ocidental, necessitamos contextualizar alguns referenciais históricos, políticos e teóricos a respeito da produção do processo de periferização capitalista, com o subproduto oriundo dessa dinâmica de subalternização e colonialidade do poder. Como reação a esse processo emergem resistências epistêmicas com matriz nos estudos pós-coloniais, anti-coloniais, decoloniais que deverão ser diferenciados em seus propósitos e críticas. A abordagem dessas matrizes são feitas desde os estudos culturais, as epistemologias do sul, o pensamento complexo, a ecologia dos saberes e a ecologia das práticas. Assim, em um momento inicial, necessita-se contextualizar esse debate para inscrevê-lo na construção de um campo epistêmico. Para tanto, faz-se necessário  reunir autores, teorias e situações  histórico-culturais que incorporem o debate sobre o socioambientalismo como expressão dessa configuração de um novo campo epistêmico (Escobar, Leff, Porto Gonçalves, entre outros são aqui referências necessárias).



3-    Requer-se de um esforço teórico e metodológico diferenciado na discussão sobre concepções de desenvolvimento, democracia e sustentabilidade socioecológica para superar os antigos paradigmas do pensamento segmentado pelo recorte da economia, da ciência política e da sociologia; um enfoque interdisciplinar sustentado  por um diálogo intenso entre essas disciplinas, poderá abrir-se às novas epistemes integradoras; reunir disciplinas e áreas de conhecimento de fronteira que abordam essas dimensões: economia, ciência e filosofia política, ecologia política, antropologia, filosofia. 

4-    O debate em torno de estratégias de desenvolvimento, ao sofrer mutações significativas com o sopro da (re)democratização no continente latino-americano e no Caribe, em meados dos anos 80, seguiu outro tipo de agenda, deslocando-se do domínio puramente econômico para as dimensões sociais, políticas e ambientais,  das quais emergiram temas importantes tais como o caráter e alcance dos regimes democráticos, obstáculos e potencialidades de políticas redistributivas que fizessem face às crônicas desigualdades sociais. Da mesma maneira, a emergência dos problemas ambientais, especialmente a partir da Rio 92, promoveu um giro importante no debate até então limitado e monopolizado pela economia, para espraiar-se em direção da sustentabilidade, incorporando o tema socioambiental no horizonte desse debate; quer dizer, até que ponto é possível reconhecer nas estratégias de desenvolvimento que o tema socioambiental significasse um novo giro e, neste caso, até que ponto é possível afirmar que existem efetivamente novas estratégias ampliadas de desenvolvimento? O que resulta das crises do próprio modelo de desenvolvimento como aposta preferencial no crescimento econômico? Seria possível afirmar que as crises das sociedades latino-americanas são reféns da economia e que as demais dimensões (tecnológicas, culturais, sociais, educacionais, ambientais...) estão subordinadas a ela?

5-    Podemos destacar dois processos interligados na reprodução dessa periferização para o nosso debate: o capítulo relativo às CONDIÇÕES HISTÓRICO-ESTRUTURAIS DOS ESTADOS NACIONAIS PERIFÉRICOS CONTEMPORÂNEOS, sua relação com as dinâmicas econômicas, políticas, institucionais e culturais vinculadas ao eixo propulsor das sociedades nacionais que é definida pelos embates em torno do núcleo central orientado para o Desenvolvimento e AS CONDIÇÕES POLÍTICAS DO CONTROLE E DOS CONFLITOS EM TORNO DA CONSTITUIÇÃO DE SISTEMAS DE PODER E DOS REGIMES POLÍTICOS ORDENADOS PELO ESTADO. Porém, esses processos produzem conflitos uma vez que ocorrem em situações de heterogeneidade estrutural, produzida pela erosão da própria ideia de nacionalidade, eivada por dissonâncias e diferenças étnico-culturais.



I-             MODERNIDADE PERIFÉRICA:  LIMITES DO DESENVOLVIMENTO



6-    A busca por soluções e alternativas ao desenvolvimento, em oposição à busca de alternativas de desenvolvimento, questiona os limites do núcleo duro do sistema hegemônico de mercado, incapaz de gerar soluções para uma imensa parcela da população destituída das condições básicas de vida, bem como de colocar a seu alcance o acesso ao planejamento de estratégias de bem-estar (bem viver) estáveis e duradouras. Indaga-se,  para tanto, se é necessário igualmente ressignificar o próprio sentido de desenvolvimento, por meio de novos conceitos e outras formas de concebê-lo. Até que ponto categorias analítica de ecologia das práticas e  ecologia dos saberes possibilitam estabelecer novas bases para operar desde as margens do sistema hegemônico.

De Sousa Santos (2010) e Stengers(2005) apresentam respectivamente uma importante discussão teórico-prática sobre a ecologia dos saberes e a ecologia das práticas. Igualmente, Escobar (2012) e Gudynas (2015) fazem uma distinção clara sobre permanecer no quadro do desenvolvimento conforme definido pela história marcada pelo mercado capitalista ou então desde outra perspectiva anti-hegemônica.

Uma das perguntas-guias desta seção é: Até que ponto são intercambiáveis ou incomensuráveis as estruturas de pensamento eurocêntrico com as epistemologias plurais (do sul, decoloniais, das margens, do pensamento complexo)? (Giro Epistêmico em relação às epistemologias da modernidade logocêntrica).



A grande pergunta que se pode fazer para a busca por soluções, dentro dos limites históricos do desenvolvimento e de suas contradições ou então desde às margens do sistema, é se ambas possibilidades são antagônicas ou complementares; mais ainda, se aparecem como antagônicas, as possibilidades de coexistência é da ordem objetiva (sistêmica) do modelo neoliberal?  Ou se a possibilidade de outra matriz hegemônica ( por exemplo, a desenvolvimentista, estatista, social democrática, etc.) poderia induzir algum tipo de coexistência?

7-    Pensar em alternativas ao desenvolvimento requer, portanto, não apenas conceber de outra forma mecanismos que permitam a uma organização social ser capaz de reproduzir-se materialmente, mas também de engendrar instituições em que a gestão, as normas, e os valores que regem as estratégias de sociabilidade se desloquem do atual sistema de racionalidade capitalista  para outras racionalidades que possibilitem sobrepor-se ou então a coexistirem com a atualmente vigente.

 [Enrique Leff ( 1998, 2004 ) em diversas obras vai desenvolver o conceito de racionalidade ambiental em que reúne condições para se pensar  diferentemente a crise capitalista e o impasse ambiental, definidos como uma crise civilizatória]. 

8-    Ao mesmo tempo em que abordávamos a possibilidade de coexistência material entre diferentes e opostos modelos de organização e regulação societal, indagamo-nos também de sistemas de racionalidades opostas, mas coexistentes. Como o material e o imaterial podem combinar-se? O quê os tornariam capazes de não apenas coexistirem na diferença mas também de se reproduzirem como tais? Este o quê supõe certamente a possibilidade de um sistema de suportes, dispositivos e andaimes circundantes e ao mesmo tempo abordáveis pelos demais sistemas.



9-     A pergunta complementar que segue a esse dilema é se há espaço possível para inventar uma transição que não desemboque em sistemas monopólicos e autoritários, tanto da economia como da política. Disto deriva a necessidade de investigar os limites do sistema político vinculado ao Estado periférico-dependente, indagando se é possível desenvolver e ampliar mecanismos democráticos que incorporem uma imensa população que se encontra à margem do processo dominante de mercado e do regime político (ou mercado político) sustentado por partidos políticos, em base à representação. Muitos e muitas pensadores, lideranças sociais e agentes públicos se indagam dessas possibilidades e potencialidades, vinculando-as com ideias, princípios e práticas pedagógicas e emancipatórias. Porém em tempos de caças às bruxas, não apenas torna-se temerário o debate público em torno  dessas possibilidades, como também os próprios espaços institucionais e de criação libertária começam a ser cerceados por novas ondas conservadoras e opressivas.



10- O capítulo da democracia tem sido apontado e remetido ao domínio das intermitências na América Latina, juntamente com o do desenvolvimento. Contudo, além das intermitências, deve-se adicionar outros componentes, nesse mesmo domínio, quais sejam da fragilidade e vulnerabilidade democráticas, diante das ameaças e efetivação do retorno a regimes autoritários híbridos[1], geminados com os mecanismos de políticas econômicas neoliberais[2], adotadas por governos conservadores (populismo conservador e autoritário de direita), logo após a crise e declínio dos sistemas políticos (populismo progressista e redistributivista) nestas duas décadas iniciais do século XXI.



Mais do que analisar a crise latino-americana recente dos sistemas político-democráticos baseados na representação partidária, nosso objetivo é de identificar, nestas últimas duas décadas, junto com a ascensão e refluxos de movimentos e organizações sociais populares, especialmente aquelas associadas com práticas socioambientais e a modelos alternativos ao desenvolvimento; que implicações representa essa ação pendular e intermitente dos mecanismos democráticos de raiz, para a própria sobrevivência e reprodução desses setores sociais. Adicionalmente, a pergunta refere-se igualmente a possíveis mecanismos de resiliência (adaptação/hibridação) em termos de sua organização territorial (socio-político-ambiental).



[1] É bom que se diga que o caráter híbrido de um sistema (econômico, político, tecnológico, cultural, ambiental, etc.) não é portador por antecipação de virtudes; um sistema híbrido pode combinar elementos de diferentes matrizes políticas, ecológicas, culturais, econômicas, tecnológicas, etc.
[2] Além da abordagem de Bresser Pereira (2018) sobre o retorno do capitalismo neoliberal financeiro, temos o termo de “refeudalização” (KALTMEIER, 2019) ou de “neoextrativismo” (SVAMPA, 2019, RESTREPO, 2018) para designar o retorno/resiliência de algumas modalidades do sistema capitalista periférico na América Latina.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

PROJETO UNITINERANTE com envolvimento da linha de Epistemologia Ambiental

REDE CASLA-CEPIAL apresenta à Reitoria da UEPG o projeto UNITINERANTE e o Evento PRE-CEPIAL 2019







No dia 05 de abril de 2019, um comissão da REDE CASLA-CEPIAL reuniu-se com o Reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Dr. Miguel Sanches Neto, e a Pró-Reitora de Graduação, Dra. Ligia Paula Couto, para apresentarem o Projeto Unitinerante: Universidade Itinerante dos Direitos Humanos e da Natureza, pela Paz e pelo Bem Viver, assim como convidar a UEPG para participar do PRÉ-CEPIAL de 2019.


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Na imagem, da esquerda para a direita: a Pró-reitora de Graduação da UEPG, Profa. Dra. Lígia Paula Couto; 
a Presidente da Casa Latino-americana, Dra. Gladys de Souza Sanchez; o Reitor da UEPG, Prof. Dr. Miguel Sanches Neto; 
o Prof. Dr. Dimas Floriani do Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR; 
o Prof. Dr. Nicolas Floriani do Programa de Pós-graduação em Geografia da UEPG; 
os representantes do Grupo de Pesquisa e Extensão Interconexões da UEPG, a Dra. Tanize Tomasi, 
o Doutorando Renato Pereira e a Doutoranda Cleusi Bobato Stadler.
A UNITINERANTE é um projeto idealizado e coordenado pela Casa Latino-americana e tem como finalidade promover trabalhos conjuntos de extensão entre as Instituições de Ensino Superior, o Poder Público e as Organizações Sociais, para atuarem regionalmente em coletivos em vulnerabilidade social, a fim de promover o empoderamento, a capacitação e o desenvolvimento desses grupos. 

Com base em práticas extensionistas e educativas participativas e includentes, o projeto apoia-se na coordenação de equipes interdisciplinares capazes de responder às demandas locais, de acordo às temáticas aglutinadoras: saúde, meio ambiente, economia solidária, cultura, envolvendo todas as áreas e setores do conhecimento das Instituições de Ensino.

Para tanto, buscará envolver os projetos de extensão e pesquisa já cadastrados nas IES e que tenham convergência com os princípios do Projeto Unitinerante, indo ao encontro da proposta abrangente de curricularização formal da extensão nos cursos de nível superior, conforme as Novas Diretrizes da Extensão Universitária do MEC (Res. Nº 7/2018).

Logo da apresentação do projeto, o Reitor da UEPG prontamente mostrou-se interessado em participar da Unitinerante, destacando a Pró-Reitoria de Graduação e a Pró-Reitoria de Extensão como interlocutoras com a equipe da RED CASLA-CEPIAL.

O PRÉ-CEPIAL 2019 foi outro assunto conversado na reunião. O Evento preparatório para o VI Congresso Internacional de Cultura e Educação para a Integração da América Latina (VI CEPAL), ocorrerá em meados de agosto de 2019, no município de Rebouças, Paraná.

Para tanto, conta com o importante apoio da Prefeitura Municipal de Rebouças. A atual gestão do Município de Rebouças é conhecida por aproximar-se dos interesses das comunidades rurais, destacando por apoiar e realizar projetos de desenvolvimento local junto às organizações sociais, além do reconhecimento de grupos e de territórios tradicionais, tais como os faxinalenses e as benzedeiras.

O Pré-Cepial de 2019 trará de debater as experiências de desenvolvimento local e reconhecimento de direitos gestadas nas comunidades e em parceria com universidades, agentes do poder publico e organizações sociais. As experiências apresentadas servirão de subsídio aos temas do VI CEPIAL, a ser realizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em junho de 2020.

O tema ‘Solidariedade e Fronteiras: os rumos e desafios para democracia, educação e territórios na América Latina’ aparece como uma das sugestões para 2020. Nesses sentido, convidamos todas as instituições e organizações a aderirem ao Pré-Cepial de 2019, na cidade de Rebouças, enviando-nos propostas de apresentações de experiências de desenvolvimento, capacitação e empoderamento de comunidades rurais, urbanas e litorâneas.