Memória No. 13 da reunião do Grupo de
Pesquisa Epistemologia e Sociologia Ambiental (elaborada pelo Prof. José Thomaz Mendes Filho), ocorrida em 16 de
setembro de 2015, nominalmente a partir das 14 horas, nas dependências da Casa
Latino-Americana (CASLA). Presentes: Prof. Dimas Floriani, Profª Lúcia Helena
de Oliveira Cunha, Katya Isaguirre, Claudia Picone, Alexandre Hedlund, David
Fadul, Guido Mejías, Guilherme Silva e José Thomaz. 1. Informe. Prof.
Dimas informou sobre presença do Prof. Dr. Fernando Codoceo, da Universidad de
Los Lagos (Chile), em evento que foi agendado para o próximo dia 24 de
setembro, possivelmente às 16 horas, na sede da CASLA. Informou também que o
Prof. Codoceo trabalha com metodologias qualitativas, e que atividades de
pesquisa do convidado contemplam populações de rua e encarcerados. 2.
Considerações e comentários iniciais. Prof. Dimas disse da importância de
pensar a relação do pesquisador com o objeto com que trabalha, acentuando a
diferença entre as concepções aristotélica e nominalista, notável no que se
refere às respectivas ênfases em aspectos universais e em aspectos
particulares. Comentou sobre a necessidade de os doutorandos elaborarem, até
novembro próximo, um documento que, de preferência, deve constituir um ou mais
de um texto para futura publicação. Perguntou aos cinco alunos de pós-graduação
sobre novidades referentes ao desenvolvimento de seus temas de interesse. E
mencionou três textos a serem trabalhados no Grupo de Pesquisa: um capítulo de
livro de autoria de Boaventura de Sousa Santos (que comentou ser, mais que um
capítulo, um programa de pesquisa), um artigo de autoria de David Fadul e José
Edmilson de Souza Lima, e um texto de autoria de Dimas Floriani. 3.
Apresentação de avanços referentes a interesses de pesquisa de doutorandos e de
mestrando. Passou-se à apresentação dos avanços referentes a interesses de
pesquisa dos doutorandos e do mestrando. 3.1. Avanços apresentados por Guido
Mejías. Guido mencionou as ideias de “sociologia das ausências” e
“emergências”, que creditou a Boaventura de Sousa Santos, professor português e
Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada; a identificação de um olhar
hegemônico que instaura dicotomias; a questão de como enfrentar o trabalho de
campo; os conceitos de “epistemologia do Sul”, de direitos humanos e de
“direitos subumanos”, também creditados a Boaventura de Sousa Santos; os
conceitos de marginalidade e de desenvolvimento local; a concepção de moradores
de rua como expressão de resistência a outros modos de vida; e o problema de
como resgatar as realidades das pessoas em sua capacidade humana. Prof. Dimas
observou que Guido dispõe de repertório de temas e representações, com olhares
teóricos em diferentes momentos da história recente. Citou como exemplo teorias
sociais de extração mais marxista, observando tratar-se de teorias que advieram
do Norte, como também o são, por exemplo, teorias desenvolvidas pelo sociólogo
alemão, nascido na Prússia, Max Weber, e pelo economista austríaco, nascido no
Império Austro-Húngaro, Joseph Alois Schumpeter, reconhecendo, nessas teorias,
algo como uma evolução linear. Disse sobre a necessidade de averiguar teorias
que considerem marginalidade desde perspectivas tanto mais clássicas como mais
críticas. Observou que as “lupas”, hoje, olham para macroprocessos e
microprocessos; e que nos anos sessenta do século vinte não importava,
teoricamente, o olhar do sujeito marginalizado. Considerou a relação entre
sujeito e objeto, fazendo menção à teoria das representações e considerando
que, em certo sentido, todos somos seres estranhos em relação a outros seres; e
que, hoje, há necessidade de trabalhar com objetos de pesquisa e também com
mediadores, citando como exemplos as mensagens dos meios de comunicação, do
Estado e das instituições de caridade. E disse da importância de fazer
inventário sobre os diversos discursos existentes sobre o fenômeno que se
estuda, de modo que o convívio com a teoria seja um convívio de “atenção
flutuante”. Profª Lúcia Helena disse haver trabalhado mais com casos empíricos,
e reconheceu que o Prof. Dimas tem uma capacidade rara de dialogar, de
sociabilizar o conhecimento. Fez menção também aos recortes, considerando que
cada perspectiva poderia resultar em uma dissertação, e à importância ou
necessidade de, para além do tema, trazer uma problemática que com ele se relaciona.
Prof. Dimas considerou que o tempo para o programa de mestrado é metade do
disponível para o de doutorado; e que a intenção do aluno é fazer um estudo
comparativo. Por fim, foi informado que em torno de sessenta por cento dos
alunos que passam pela Fundación Social de la Pobreza, no Chile, continuam,
depois, a trabalhar com o tema da pobreza. Davi considerou a necessidade de
focar no recorte específico a ser desenvolvido na dissertação. Guilherme citou
Boaventura de Sousa Santos, relacionando-o à ideia de “pensamento abissal”; e
considerou também que o recorte temático é fundamental, dado o pragmatismo do
prazo. Profª Lúcia Helena observou que trabalhar com representações sociais
implica em atentar menos para a origem dos construtos nos campos em que
primeiramente hajam surgido, e mais para que as representações,
conceitualmente, estão inscritas no campo simbólico e na prática social, e
guardam relação com a materialidade. Com referência à conhecida diferença
marxista entre infraestrutura e superestrutura, foi indagado se o filósofo e
sociólogo alemão Karl Heinrich Marx fazia, ou não, essa diferença. E foi
observada a existência de dois níveis: o valorativo e o da prática. 3.2.
Avanços apresentados por Guilherme Silva. Guilherme considerou, inicialmente,
as noções de campo, campo científico e campo da educação ambiental. Prof. Dimas
disse que a ideia é que os alunos se aproximem, tematicamente, dos professores
mais afins a seus interesses de pesquisa. Guilherme fez menção a Enrique Leff,
engenheiro mexicano e doutor em economia do desenvolvimento. Profª Lúcia Helena
considerou a importância da leitura e da escrita no desenvolvimento das teses.
Prof. Dimas mencionou ecologia das práticas e ecologia dos saberes, fazendo
menção a Boaventura de Sousa Santos e à filósofa belga Isabelle Stengers.
Considerou que cada campo de saber tem suas práticas, e a necessidade de fazer
um balanço, de demarcar fronteiras. Lembrou a crítica que o biólogo
teuto-americano Ernst Mayr fez à proposta do físico e filósofo da ciência
norte-americano Thomas Samuel Kuhn referente ao processo de desenvolvimento do
conhecimento, no particular em que Mayr não via a Biologia contemplada na
proposta de Kuhn. Neste contexto, destacou a diferença entre campos internos a
uma mesma ciência, citando comparação entre biologia molecular e biologia
evolucionista. Considerou que a demarcação de fronteiras ilumina a definição do
trabalho empírico. Expressou a compreensão de que a ênfase marxista em traduzir
superestrutura em infraestrutura seria como que um anúncio de que os marxistas
não eram idealistas; que sua dialética se afastava, de modo decisivo, da que
caracterizava, e caracteriza, a obra do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich
Hegel. E destacou a importância de definir e anunciar previamente o método.
Profª Lúcia Helena, consultada sobre autores que discorrem sobre
representações, citou o psicólogo social romeno, radicado na França, Serge
Moscovici, e a socióloga francesa Denise Jodelet. David fez menção a
autoafirmação e autotranscendência na qualidade de tipos ideais. Para estimular
o pensamento sobre representações, Prof. Dimas e Profª Lúcia Helena indicaram
livro que ganhou a tradução As Formas Elementares da Vida Religiosa (São
Paulo: Martins Fontes), de autoria do sociólogo francês Émile Durkheim. 3.3
Avanços apresentados por Claudia Picone. Claudia mencionou interesse por
relacionar mudanças climáticas e representação, Levando em conta, nesse
contexto, o prejuízo aos menos favorecidos e a divisão entre comunicação
informacional e construção de sentidos. Katya Isaguirre chegou e apresentou
breve explicação sobre haver chegado depois do início das atividades. 3.4
Avanços apresentados por David Fadul. David fez menção ao sujeito
cognoscente, e considerou estar o campo ambiental em momento de autoafirmação.
Prof. Dimas reconheceu, nesse contexto, a validade de método heurístico. David
reconheceu possibilidade de trabalhar sujeito cognoscente coletivo, e
manifestou interesse por realizar pesquisa empírica. Prof. Dimas sugeriu que o
sujeito cognoscente fosse tratado no campo do Direito. Katya indagou quanto à
existência, de fato, de um direito ambiental. David disse que não focaria a
pesquisa em direito ambiental. Katya disse conhecer casos em que, no contexto
do direito ambiental, justificativas são apresentadas com base em credo
religioso e em prática jurídica. Prof. Dimas considerou que, quando se lança
mão de uma abordagem como a do sujeito cognoscente, o sujeito é posto no centro
da ação, diferentemente das concepções de sujeito fixo e de lei fixa. 3.5
Avanços apresentados por Alexandre Hedlund. Alexandre informou haver
procurado montar as categorias de espaço e lugar. Disse haver começado a ler o
livro traduzido As Prisões da Miséria (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.),
de autoria do sociólogo francês Loïc Wacquant. Mencionou espaço marginal,
cultura de controle, criminalidade urbana, problema de considerar
simultaneamente uma pluralidade de elementos, epistemologia da violência e
epistemologia da criminalidade. Profª Lúcia Helena e Katya recomendaram, como
referência, trabalho desenvolvido pelo cientista social Pedro Bodê. Alexandre
expressou interesse pela questão do controle. Profª Lúcia Helena indagou se o
interesse seria por teoria ou por estudo de caso. Alexandre disse ter interesse
por ir a campo. Profª Lúcia Helena indicou leitura de textos do filósofo e
teórico social francês Michel Foucault. Alexandre concordou com a indicação, e
aduziu referência à contribuição do filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham,
no particular em que este, antes de Foucault, houvera expresso a ideia de
“panóptico” como estratégia de vigilância de comportamento. Profª Lúcia Helena
enfatizou a importância de ler autores. Prof. Dimas considerou a importância de
ser nominalista: de não ser generalista, mas sim ater-se a casos particulares.
Alexandre disse perceber a criminologia como pensamento de fronteira entre
várias ciências. Katya considerou ser um pouco difícil o diálogo entre direito
ambiental e direito penal. Prof. Dimas citou caso do desmatamento na Região
Norte do Brasil, no particular em que, no tempo do regime militar, era
incentivado, e atualmente é alvo de crítica. Thomaz manifestou interesse por
conhecer sobre que perspectiva Alexandre gostaria de tratar o tema
criminologia. Expressou interesse acadêmico pelo estudo das teorias da justiça
e opinou que, nesse contexto, o tema é de primeira importância, em especial
porque encerra a questão da possibilidade de alguém poder dispor da liberdade
de outra pessoa. Recorrendo a metáforas, propôs que Têmis cedesse lugar a
Atena, na qualidade de personificação da Justiça, argumentando que, embora a
ideia de tratamento igualitário (Têmis) tenha importância, o problema da
Justiça precisa ir além e, assim, não pode prescindir da sabedoria (Atena). Com
referência a esse comentário, David considerou que Têmis representa a
necessidade de observação do ordenamento jurídico, e que, não obstante, a Atena
cabe o julgamento adequado. Descreveu brevemente uma passagem da tragédia Eumênides,
creditada ao dramaturgo grego clássico Ésquilo, na qual é apresentado o
julgamento de Orestes, realizado por Atena e origem da expressão “voto de
minerva”. Katya e David desenvolveram diálogo em torno da questão do uso de
organismos geneticamente modificados na agricultura. Sobre esse assunto, Prof.
Dimas destacou o problema dos danos à biodiversidade, decorrentes do padrão da
monocultura, e o debate sobre o patrimônio genético. Claudia informou que por
volta de 70% (setenta por cento) dos alimentos disponíveis para compra em
supermercados provêm da agricultura familiar. Prof. Dimas indagou sobre se
existe um “caminho do meio” na questão dos transgênicos, e sobre que mecanismos
de vigilância epistemológica seriam adequados a essa questão. 4.
Encaminhamento. Prof. Dimas observou a necessidade de, para o próximo
encontro, os doutorandos e o mestrando providenciarem arcabouço
teórico-metodológico compatível com os temas de suas teses e dissertação, tendo
em vista a necessidade de o documento coletivo ser produzido até o dia 10 de
novembro. próximo. Curitiba, 22 de setembro de 2015.
Projeto de Pesquisa registrado no CNPq cujo objetivo é reunir pesquisadores latino-americanos, com metodologia interdisciplinar, por meio de pesquisas, seminários e publicações em Meio Ambiente, Cultura e Sociedade. Este projeto (2015-18) é coordenado pelo Prof. Dr. Dimas Floriani, responsável pela linha de Pesquisa em Epistemologia e Sociologia Ambiental do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR e inserido na Rede Internacional CASLA-CEPIAL Semeando Novos Rumos / Sembrando Nuevos Senderos (Coordenação Geral de Casa Latino-Americana - CASLA). Clique para acessar o projeto.
ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).
ESTAMOS INICIANDO UMA NOVA CAMINHADA EM 2019. Registramos novo projeto de pesquisa no CNPq (2019-2021), com o título de:
CONFLITOS DO SOCIOAMBIENTALISMO DESDE AS MARGENS: as intermitências do desenvolvimento e da democracia na América Latina.
Estamos associando ao projeto o(a)s doutorando(a)s da Linha de Epistemologia Ambiental do PPGMADE (UFPR).
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